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Diesel nas alturas: Como fica para o caminhoneiro autônomo e para o embarcador?

Publicado em 18/07/2022

Enquanto os poderosos lutam para decidir quem é o mais forte, quem sofre mais é quem está na base da cadeia alimentar – ou seja, os caminhoneiros

Artigo | Por Jarlon Nogueira *


Foto: Divulgação

Se três anos atrás alguém me dissesse que um vírus tomaria conta do mundo e o viraria de cabeça para baixo, transformando completamente a maneira de viver e trabalhar, eu simplesmente não acreditaria. Pandemia, máscara N95, quarentena, lockdown, novo normal... O que é isso?

E se essa pessoa contasse que uma consequência seria o diesel ultrapassar o valor da gasolina e ainda ter o risco de faltar, eu daria risada e a chamaria de vidente barata.

Só que, por incrível que pareça, o dia 30 de junho de 2022 ficará marcado como data em que o que nunca ninguém imaginaria aconteceu. O preço médio do diesel atingiu uma média de R$ 7,87 o litro, valor 9,8% mais caro ao se comparar a maio.

Sabe aquele filme, “O dia em que a Terra parou”? Pois é assim que eu me sinto. Custo a acreditar. O diesel S-500 está ainda mais caro, uma média de R$ 8 nos postos de todo o país. A situação é tão crítica que parece mais um filme de terror.

O primeiro semestre de 2022 fechou com o triste recorde de 36,4% no diesel comum e 37,3% no diesel S-500, de acordo com dados do IPTL. Segundo a ANP, desde 2004 isso não acontecia. E a gangorra de preços é absurda Brasil afora. A agência registrou máxima de R$ 9,15 por litro do diesel no Mato Grosso e mínima de R$ 6,37 em São Paulo.

“Estão gostando da baixa dos combustíveis?”, perguntou o presidente Bolsonaro durante um compromisso na Bahia. Sim, a gasolina baixou em algumas cidades depois de promulgada a lei que limitou a cobrança de ICMS dos combustíveis. Mas nenhum sinal do diesel ainda.

E a alegria pode durar pouco. Governadores de 11 estados e do Distrito Federal questionam trechos da lei, já que ela atinge em cheio a maior fonte de arrecadação dos estados – justamente esse tributo. O STF deu um prazo de 10 dias para que o presidente, a Câmara dos Deputados e o Senado se explicassem. 

Uma luz no fim do túnel acende uma esperança. O Senado aprovou uma proposta de auxílio para os caminhoneiros de R$ 1 mil, válida até o final de 2022. Mas ela só vai valer depois que passar pela Câmara dos Deputados.  Medida populista, com certeza é melhor do que nada.

E, enquanto os poderosos lutam para decidir quem é o mais forte, quem sofre mais é quem está na base da cadeia alimentar. Ou seja, os caminhoneiros.

No dia 24 de junho, a ANTT publicou uma nova tabela com o reajuste dos preços mínimos do frete rodoviário. O aumento médio ficou entre 7,06% a 8,99%, variando conforme o tipo de carga, número de eixos, distância do deslocamento e tipo de operação.

Por lei, a agência precisa atualizar os valores a cada seis meses ou quando a variação do preço do diesel for igual ou superior a 5%. Nesse último caso é acionado o mecanismo de gatilho. O último reajuste foi em 19 de março e, de lá pra cá, diversos aumentos pesados aconteceram.

E não adiantou os caminhoneiros reclamarem. O aumento continua acontecendo baseado no preço do combustível nas refinarias, não no mercado. Está cada vez mais difícil os motoristas sobreviverem e oferecerem uma vida digna para as suas famílias. Manutenção do pesado, combustível e pedágio.

Fica difícil fechar a conta e o fim é drástico para alguns: vender o caminhão e abandonar a boleia. A ANTT fez as contas: há cinco anos eram 919 mil motoristas autônomos, número que caiu para 696 mil em 2021 – uma diminuição de 24%. A saída é procurar emprego em transportadoras. Melhor ser CLT, ganhar pouco e ter garantias do que praticamente pagar para trabalhar.

Para o embarcador, o frete pesa e fica difícil escapar do repasse para o produto final. Uma saída, ao invés de colocar todas as fichas em uma transportadora, pode ser optar pela primarização logística. Essa opção possibilita que a empresa mesmo ou uma terceira fique a cargo da operação logística usando motoristas autônomos.

A economia pode ser de até 30% no frete, comparando com atravessadores ou transportadoras. O motivo é que a estrutura da plataforma é muito mais enxuta e conta com tecnologias que automatizam os processos. E isso se reverte para o próprio caminhoneiro, que é melhor remunerado do que se prestasse serviços para uma transportadora tradicional.

Ao fazer toda essa reflexão, confesso que tenho medo do futuro, até porque a ANP acabou de propor um aumento nos estoques. Como será o amanhã? Vou perguntar a um vidente.


* Jarlon Nogueira é CEO da AgregaLog, transportadora digital que oferece soluções de logística de transporte para a indústria.

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