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Os desafios de gerir as redes de suprimentos após a crise da Covid-19

Publicado em 14/08/2020

* Por Eloi Fernández y Fernández e, Luis F Mendonça Frutuoso


Foi necessária uma pandemia para notarmos que havia algo de errado nos sistemas de suprimentos mundial, muito concentrados na Ásia. Quando percebemos que não seríamos capazes de ofertar respiradores de qualidade, com preços competitivos e nos prazos adequados, a “ficha caiu”.
Antes disso, porém, as rupturas nos fornecimentos de sobressalentes, por exemplo, já se faziam sentir. 

Elas encontravam-se, por exemplo, nos prédios com elevadores parados por períodos de tempo inadmissíveis. Tudo porque peças de reposição, inclusive portas pantográficas, entraram num processo inexplicável e desgovernado de suprimento global, cuja lógica não obedece a padrões de qualidade minimamente aceitáveis. Importantes parcelas da população estavam desassistidas de atendimentos de diferentes serviços sem que isso fosse objeto da preocupação de governos, da mídia, das redes de suprimentos, de empresas e até mesmo dos próprios consumidores, contribuintes e cidadãos. 

As redes globais de suprimento que foram desenvolvidas pelas empresas, com foco em competitividade por meio da redução de custos desde o final da década de 80, sofreram várias rupturas com a recente pandemia da Covid-19. Pandemias sempre foram citadas como riscos à garantia do processo de suprimento. Entretanto, nunca foi priorizada, tanto pela crença de que nós éramos capazes de controlar seus efeitos e produzir medicações e vacinas, quanto pela comparação com outros riscos, como guerras, volatilidade regulatória, pirataria, falsificações e outros. E, como vimos, os efeitos na cadeia logística e nas atividades fabris foi devastador.

Conforme análise de Assis Moreira (publicada no jornal Valor Econômico, de 14 de abril de 2020), a crise atual deve acelerar uma reconfiguração no 

comércio mundial, com uma mudança brutal nos fluxos de troca. Nesse sentido, uma das principais tendências é a busca das grandes empresas em diversificar suas cadeias de suprimentos. Um dos desafios é ampliar o leque de fornecedores para ter mais segurança no futuro com foco em “localização” e “regionalização”, o que também é encorajado por especialistas internacionais. Outra tendência é o comportamento de governos em identificar setores essenciais e estratégicos, estabelecendo “novas” regras de protecionismo e precauções contra diferentes riscos. Padrões e normas de qualidade dos produtos e serviços serão utilizados como justificativas de barreiras por países e associações empresarias.

A recente pandemia decorrente da agressividade da Covid-19 paralisou, se não totalmente, parcialmente, instalações fabris, rotas de aviação e navegação, fez sobrar petróleo em navios petroleiros, aumentou o consumo de alguns itens considerados essenciais e, como tudo indica, provocará uma onda de recessão sem paralelo com efeito de outras crises que sequer terminaram. 
O termo “tempestade perfeita” talvez esteja sendo conhecido na sua plenitude neste período pelo qual o mundo está passando. Ou não! Como aprender, com a crise atual, a se preparar para enfrentar outras rupturas de forma mais equilibrada nos setores mais representativos de nossa economia? 

Uma nova visão de mundo e de mercado irá se sobrepor, estabelecendo uma moderna forma de cooperar, utilizando aspectos de um novo ambiente social e humano,  combinando conceitos de globalização e fatores regionais, em que tecnologia, informação e novas modelagens vão ser determinantes para os processos a serem elaborados e construídos. 
 

Eloi Fernández y Fernández (foto de cima) e Luis F Mendonça Frutuoso, são professores e pesquisadores do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio)

 

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