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Gigantes da Logística: A operação do Grupo Boticário em números

A empresa opera com três fábricas no Brasil, dez centros de distribuição e uma rede de mais de 4 mil lojas espalhadas por mais de 1,7 mil cidades

Publicado em 20/01/2025 — por Camila Lucio e Christian Presa
Gigantes da Logística: A operação do Grupo Boticário em números

O Grupo Boticário é o destaque da quarta reportagem da série “Gigantes da Logística”, produzida com exclusividade pela MundoLogística. A empresa, uma das referências no mercado de beleza no Brasil, desenvolveu ao longo dos anos uma operação logística que sustenta sua presença em milhares de cidades brasileiras, conectando diferentes canais de venda.

A empresa opera com três fábricas no Brasil, dez centros de distribuição e uma rede de mais de 4 mil lojas espalhadas por mais de 1,7 mil cidades. Ao longo desta reportagem, exploramos como o Grupo Boticário organiza sua cadeia logística, o papel das transportadoras na operação e como a empresa responde às demandas de um mercado cada vez mais omnichannel.

 

 

Em entrevista exclusiva à MundoLogística, o diretor-executivo de Suprimentos do Grupo Boticário, Fabio Miguel, detalhou a complexidade da operação logística da empresa, que integra diversas etapas e canais de distribuição para atender ao mercado brasileiro.

“A operação do Grupo Boticário é bastante complexa, algo que explico como sendo end-to-end. Importamos matérias-primas e embalagens de sete países, além de trabalharmos com 300 fornecedores locais”, afirmou.

Segundo o executivo, toda essa logística envolve a captação e importação de insumos vindos de países como Alemanha, Estados Unidos e China, ou de fornecedores dentro do Brasil. Os materiais são armazenados em centros logísticos localizados dentro das fábricas, onde aguardam o momento certo para abastecer a produção.

Após a etapa de fabricação, os produtos são transportados para os centros de distribuição, o que Fábio Miguel denomina middle mile. A operação se divide em três fases principais: o first mile, referente ao transporte de insumos e embalagens; o middle mile, que conecta as fábricas aos CDs; e o last mile, responsável pela entrega final.

Na avaliação de Miguel, o last mile apresenta maior complexidade devido à diversidade de canais atendidos. “Estamos presentes com os franqueados, nossos parceiros há 47 anos, no modelo de lojas físicas; com as revendedoras do modelo door-to-door, em que entramos em 2012; em farmácias e supermercados; e no e-commerce, que cresceu significativamente, principalmente no período pós-pandemia”, destacou o executivo.

O grupo conta com dez centros de distribuição, localizados em Registro (SP), São Gonçalo dos Campos (BA), Serra (ES), Varginha (MG), Campina Grande do Sul (PR), Cajamar (SP), São José do Rio Preto (SP), Portugal, Colômbia e Estados Unidos.

MALHA LOGÍSTICA DO GRUPO BOTICÁRIO

A malha logística do Grupo Boticário reflete a dimensão e a diversidade das operações da empresa. Fábio Miguel detalhou como a rede de parceiros e a infraestrutura operacional sustentam o atendimento a mais de 4 mil lojas distribuídas em 1,7 mil cidades brasileiras.

“Nossa malha logística é ampla e diversificada. Contamos com 53 parceiros responsáveis pelo transporte no last mile e com outros 34 parceiros dedicados ao first mile e ao middle mile, que envolvem a importação de insumos e a distribuição entre fábricas e CD”, explicou.

A logística do grupo também enfrenta desafios impostos pela geografia e pelo clima. “Por exemplo, para atender localidades no Amazonas, é necessário transporte fluvial, utilizando navios e barcos até alcançar cidades menores. Em contrapartida, enfrentamos desafios sazonais, como chuvas no Sul, que no ano passado nos obrigaram a realizar desvios de até 400 km para alcançar destinos como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, saindo do Paraná”, ressaltou o executivo.

Apesar das dificuldades regionais, a operação também se beneficia das grandes rodovias que conectam as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, facilitando o transporte de mercadorias. A robustez da malha logística permite que o Grupo Boticário realize cerca de 4 milhões de entregas por ano, atendendo canais de venda variados, como lojas físicas, revendedoras, mercado B2B (farmácias e supermercados), e-commerce e omnichannel.

Na avaliação da companhia, a dimensão das entregas é tão significativa que equivale a quase 500 viagens de ida e volta à Lua, mostrando a escala e o alcance da operação.

Para Fábio Miguel, o principal diferencial da operação logística do Grupo Boticário está na capacidade de atendimento omnichannel e na proximidade com os franqueados. “Nosso principal diferencial é o tempo de atendimento e a parceria com os franqueados, além de nossa capacidade de entrega omnichannel, que abrange a casa das revendedoras e consumidores em qualquer parte do Brasil”, destacou.

Conforme explicação do executivo, o Grupo Boticário adota uma abordagem logística end-to-end. “No caso do Grupo Boticário, realizamos toda a operação de ponta a ponta, desde a produção até a entrega final. Seja na casa do consumidor ou na loja do franqueado, seja em Cuiabá, no Rio Grande do Norte ou no Rio Grande do Sul, toda a logística é gerida por nós”, explicou.

Além disso, Fábio Miguel comentou a estratégia do grupo para lidar com os desafios sazonais e os picos de demanda, especialmente durante datas comemorativas como o Dia das Mães e o Natal. “Cada vez mais, estamos antecipando a produção e as entregas. Por exemplo, no caso do Dia das Mães, que ocorre em maio, começamos a produção em janeiro, com entregas programadas para fevereiro e março. Para o Natal, iniciamos a produção em junho, com a primeira entrega em setembro, a segunda em outubro e a última em novembro”, explicou.

De acordo com o executivo, o planejamento antecipado permite que a demanda seja atendida de forma gradual, evitando sobrecarga em meses específicos. “Como os franqueados não têm capacidade para receber todas as entregas de uma vez, fatiamos as entregas, permitindo que eles recebam, armazenem e vendam de maneira mais eficiente.”

GESTÃO DO TRABALHO HUMANO

Com mais de 3 mil colaboradores diretos e indiretos na área de logística, o Grupo Boticário lida com a constante necessidade de capacitação e desenvolvimento dos colaboradores para manter a eficiência de suas operações. “Temos cursos e treinamentos muito fortes, especialmente voltados para o público operacional, que fazem parte da nossa rotina”, afirmou Fábio Miguel.

Segundo o executivo, a empresa oferece níveis de formação que vão do 1 ao 5. O nível 1, por exemplo, é um nivelamento de matemática, português e aulas básicas, até que o colaborador atinja o nível 5, onde ele já tem conhecimento sobre qualidade, produtividade, programas e eficiência.

“O objetivo é que ele seja capaz de resolver problemas com autonomia, sem precisar recorrer constantemente a um técnico ou supervisor no dia a dia. Assim, eles conseguem perceber todo o seu desenvolvimento, e muitos se destacam. É nesse momento que muitos começam a assumir posições de liderança e maiores responsabilidades”, disse.

Além dos cursos internos, o Grupo Boticário também investe no desenvolvimento externo. “Se precisamos de um técnico de logística para aprender mais sobre automação, por exemplo, o enviamos para uma feira de logística na Alemanha. Esse trabalho é importante porque ele retorna com novas ideias, observa os temas e os problemas enfrentados por outras empresas e, ao voltar, já traz projetos novos, como de uma nova fábrica ou um novo centro de distribuição em Minas. Ele também compartilha ideias sobre o que deu certo e o que não deu certo, o que é importante”, destacou Miguel.

FROTA TERCEIRIZADA X INFRAESTRUTURA BRASILEIRA

A frota do Grupo Boticário é terceirizada, composta por mais de 50 transportadoras para atender todos os canais do grupo, como lojas, revendedoras e distribuidores. Para atender à crescente demanda do e-commerce, o grupo conta com 8 transportadoras dedicadas exclusivamente ao canal online.

Atualmente, a gestão logística do Grupo Boticário é voltada para o transporte rodoviário no Brasil. Como destaca Fábio Miguel, o Brasil é um país continental, sem uma malha ferroviária robusta como a de outros países continentais, como Estados Unidos e China, o que torna o transporte rodoviário ainda mais essencial. “No Brasil, a principal alternativa é o caminhão, e por isso há a necessidade de contar com um grande número de transportadoras, que geralmente são regionalizadas”, explicou.

Outro grande desafio mencionado pelo executivo é a sustentabilidade, uma vez que a logística rodoviária ainda possui grande impacto ambiental. No entanto, o Grupo Boticário está implementando iniciativas para minimizar esse impacto. “Estamos investindo no uso de GNV e estudando o biometano como alternativas mais sustentáveis”, disse o executivo.

Em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba, a companhia possui um projeto, que utiliza veículos elétricos, todos dirigidos por mulheres. Esse projeto inclui mais de 90 caminhões pequenos e elétricos que circulam durante o horário comercial, quando os caminhões maiores são restritos.

“Esses veículos elétricos, além de serem sustentáveis, são conduzidos por mulheres, o que gera um engajamento significativo, pois nossas franquias frequentemente são gerenciadas por mulheres. Assim, temos uma mulher realizando a entrega para outra”, ressaltou.

LOGÍSTICA INTERNACIONAL

O Grupo Boticário também expande suas operações além das fronteiras brasileiras, com centros de distribuição localizados em diferentes pontos do mundo. A companhia possui um CD em Lisboa (Portugal), facilitando o abastecimento do mercado europeu; em Charlotte, na Carolina do Norte (EUA), atendendo à demanda norte-americana; e em Bogotá (Colômbia), para atender à região da América Latina.

Quando questionado sobre a diferença da logística brasileira comparada com outros países, Fábio Miguel destacou a importância das parcerias regionais. “Temos 53 transportadoras, muitas delas especializadas em suas regiões, como na Bahia e no Amazonas. No Amazonas, por exemplo, a logística exige uma abordagem diferenciada. Chegar em Manaus é relativamente mais fácil, mas, uma vez lá, as operações se tornam mais complexas”, explicou.

No entanto, para alcançar as cidades do interior do Amazonas, a companhia utiliza barcos, o que apresenta desafios, principalmente durante a seca, quando a navegação fica mais difícil. “Também enfrentamos dificuldades em momentos de chuvas intensas no Rio Grande do Sul, o que exige um controle rigoroso das operações de estradas e caminhões para garantir o abastecimento”, disse o executivo.

Em comparação com outros países, como Portugal, a logística é mais simples, já que a malha viária é mais desenvolvida, além da diferença geográfica de tamanho. “Nos Estados Unidos e na Colômbia, também temos parcerias estratégicas. No caso dos Estados Unidos, o processo envolve o transporte do Brasil até as fábricas locais, e, a partir daí, um parceiro realiza a entrega diretamente nas casas dos consumidores, especialmente no e-commerce”, exemplificou.

INVESTIMENTOS FUTUROS

Em agosto de 2024, o Grupo Boticário anunciou um investimento de R$ 4,14 bilhões para aumentar a capacidade logística e industrial. A Bahia receberá parte desse montante para expandir em 50% a capacidade produtiva da fábrica de Camaçari e ampliar sua malha logística.

De acordo com a empresa, a nova fábrica em Pouso Alegre (MG), com aporte de R$ 1,8 bilhão, trará mudanças significativas para a logística nacional, aumentando a capilaridade das operações e otimizando os fluxos de distribuição.

Segundo Fábio Miguel, será necessária uma logística robusta para atender a nova fábrica. “Contaremos com 11 armazéns logísticos para armazenar matérias-primas, como vidros, válvulas, embalagens plásticas e bisnagas, essenciais para a produção de perfumaria, xampus e hidratantes. No processo de outbound, o centro de distribuição em Varginha será ampliado para concentrar grande parte dos produtos fabricados em Minas Gerais e redistribuí-los para outros CDs regionais. Além disso, Minas Gerais contará com um novo CD, associado à nova fábrica”, explicou.

O Grupo também investirá R$ 840 milhões na unidade de São José dos Pinhais (PR) e R$ 700 milhões em expansões logísticas por todo o país até 2027.