Tecnologia ainda é desafio para entregas com drones
Publicado em 25/03/2015
As companhias americanas que esperam usar drones para entregar pequenos pacotes estão enfrentando dificuldades técnicas, como a duração da bateria dos aparelhos e as condições adversas do tempo, que são tão incômodas quanto as limitações regulatórias impostas pelo governo.
Empresas de varejo e de transporte como Amazon.com Inc., Alibaba Group Holding Ltd. e Deutsche Post DPSGY estão entre as maiores entusiastas dos drones, apostando que as pequenas aeronaves não tripuladas podem transformar seus negócios. Porém, problemas como a breve duração das baterias e sistemas imprecisos de localização indicam que pode levar anos até que exércitos de drones substituam os caminhões de entregas da FedEx FDX e da UPS.
Drones para a entrega de encomendas “são absolutamente viáveis, mas há muitos obstáculos técnicos que precisam ser superados. Estamos ainda na fase de protótipo”, destaca o professor de robótica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e ex-chefe do Projeto de Drones do Google Inc., Nicholas Roy.
A FedEx Corp. e a United Parcel Service Inc., as duas maiores empresas de entregas expressas dos Estados Unidos, afirmam que a tecnologia está longe do estágio comercial. “Ainda há várias razões, porque os drones não são uma tecnologia viável no momento.”
Segundo especialistas, o maior desafio é a duração da bateria. Assim como fabricantes de laptops, smartphones e carros elétricos, os de drones estão tentando concentrar mais energia em baterias menores. A questão é especialmente complicada no caso dos drones, pois quanto maior o pacote a ser entregue, mais energia é necessária para fazê-lo voar.
A Amazon quer que seus drones carreguem até 5 libras (cerca de 2,3 kg) em um trajeto de até 20 milhas ida e volta (32 km). “Isso, hoje, é impossível com o protótipo de oito rotores exibido pela Amazon, no fim de 2013”, ressalta Raffaello D’Andrea, professor de robótica da Universidade de Engenharia ETH Zurich, na Suíça, e um dos inventores dos robôs usados pela Amazon, nos seus centros de distribuição.
Uma alternativa é a abordagem que o Google apresentou em agosto: um drone híbrido com propulsores e asas que decola como um helicóptero e plana como um avião, ampliando seu alcance. Porém, por ora, esse design não é tão resistente ao vento e é menos ágil e confiável que o drone do tipo helicóptero. O Google afirmou, recentemente, que descartou esse design, porque era muito difícil controlar o aparelho.
Na semana passada, a Amazon recebeu aprovação da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) para testar seus drones em espaços abertos. A empresa desenvolveu mais de dez aeronaves no seu projeto chamado Prime Air.
“Não lançaremos o Prime Air até que sejamos capazes de demonstrar a segurança da operação”, explica Gur Kimchi, vice-presidente do Amazon Prime Air, por meio de um comunicado.
Especialistas dizem que um grande desafio é garantir que os drones façam entregas sem incidentes em, praticamente, 100% das vezes. Para serem comercialmente viáveis, esses drones precisam ser baratos, dizem os desenvolvedores, e excepcionalmente confiáveis, para obterem a aprovação dos reguladores e do público.
Há a questão de como entregar os pacotes. Algumas empresas têm testado deixá-los na porta dos consumidores e outras têm tentado baixá-los em um cabo, mas os dados de sistemas globais de posicionamento podem ser imprecisos, a ponto de levar o drone para a casa errada.
Uma pessoa a par dos planos da Amazon conta que, para simplificar a entrega, os drones da empresa poderiam deixar os pacotes em depósitos trancados, onde os consumidores poderiam retirá-los, por meio de códigos enviados pela empresa.
Cada drone também teria de voar de forma autônoma, o que exige sensores e software capazes de mapear o ambiente em três dimensões e dirigir o aparelho durante o voo. Essa tecnologia ainda não está disponível, mas empresas como Intel Corp. e Qualcomm Inc. afirmam que estão perto de resolver a questão.
Os reguladores não devem permitir o uso de drones para entregas enquanto essas limitações técnicas não forem superadas. Em fevereiro, a FAA propôs regras que exigem um piloto para monitorar cada drone, limitam os voos a uma área sob o alcance da vista do operador e proíbem os aparelhos de voar sobre pessoas. As regras devem ser concluídas em 2016 e não permitirão que os drones carreguem “carga externa”.
A FAA afirmou que deve permitir o voo de drones além do campo de visão dos operadores, se as empresas provarem que possuem tecnologia confiável para evitar colisões. Não está claro se a agência consideraria o uso de operações em larga escala de drones autônomos supervisionados por poucas pessoas, como as empresas hoje vislumbram.
Apesar disso, as empresas estão seguindo em frente. A Amazon e o Google vêm trabalhando em drones que poderiam entregar pequenos pacotes em até 30 minutos. Um drone da DHL entregou remédios no Mar do Norte e o Alibaba, gigante chinês do comércio eletrônico, entregou chá, usando drones em fevereiro.
“A tecnologia é desafiadora, mas totalmente factível”, afirmou Jeff Bezos, diretor-presidente da Amazon, no ano passado.
D’Andrea, especialista em robótica, estima que levaria cinco anos para desenvolver a tecnologia para uso de drones em larga escala. “As pessoas subestimam as dificuldades técnicas.”
Fonte: The Wall Street Journal