
Segundo o painel intergovernamental sobre mudanças climáticas, a temperatura global deve aumentar em até 4,4°C até o final do século XXI se as emissões de gases de efeito estufa continuarem a crescer nas taxas atuais. Além disso, apenas em 2024, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), emitiu 3,62 mil alertas de desastres, maior número desde o início das atividades de monitoramento em 2011.
Diante desse cenário, o mundo corporativo busca alternativas para reduzir os impactos de suas operações. No transporte rodoviário de cargas, que movimenta mais de 65% das mercadorias no Brasil, as possibilidades são promissoras. Segundo o Observatório do Clima (OC), o país pode reduzir cerca de 400 milhões de toneladas de dióxido de carbono no setor de energia até 2050. Além disso, o abandono gradual dos combustíveis fósseis pode levar as emissões a 102 milhões de toneladas de CO2, uma queda de aproximadamente 80% em relação aos níveis atuais.
Na avaliação da vice-presidente extraordinária de ESG da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) e diretora da TransJordano, Joyce Bessa, o impacto das mudanças climáticas não se limita ao setor produtivo, mas reverbera em toda a economia.
“No setor de transportes, as mudanças climáticas já afetam a operação de forma significativa, seja em termos de infraestrutura, logística e até mesmo segurança. Por isso, é fundamental que as empresas, incluindo as de transporte rodoviário de cargas, busquem adaptar suas práticas para minimizar esses impactos”, disse.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Cargas Campinas e Região (SINDICAMP) e diretor da Anacirema Transportes, José Alberto Panzan, também ressaltou a relevância desse compromisso. “A sustentabilidade não é apenas uma tendência ou uma exigência do mercado, mas uma necessidade para garantir o futuro do transporte rodoviário de cargas. Nosso objetivo é adotar medidas que preservem o meio ambiente e, ao mesmo tempo, garantam a nossa competitividade em um setor tão desafiador”, afirmou.
Em novembro de 2024, o Governo Federal enviou ao secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, a meta de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), um plano de ação climática que estabelece metas de cada país para reduzir emissões de gases de efeito estufa. No documento, o Brasil se comprometeu a uma redução no intervalo entre 59% e 67%.
Este escopo, estabelecido oficialmente, traz uma grande responsabilidade para os setores que fazem parte da cadeia produtiva. Na visão de Joyce Bessa, o setor de transporte já começou a se adaptar, mas o caminho ainda é longo. “É fundamental que o setor comece a incorporar práticas ESG de maneira mais estruturada, desde a escolha de fornecedores até a implementação de tecnologias de monitoramento de emissão de gases”, adicionou.
ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS
De acordo com os executivos, as práticas atuais estão voltadas para a eletrificação, utilização do hidrogênio verde e outras fontes renováveis, Inteligência Artificial, infraestrutura inteligente e para o treinamento da mão de obra. “Essas inovações não apenas reduzem o impacto ambiental do setor, mas também o tornam mais resiliente às mudanças climáticas, garantindo a continuidade e eficiência das operações mesmo em condições adversas”, complementou Panzan.
O executivo acredita que a chave para o sucesso das implementações sustentáveis no TRC e, consequentemente, a diminuição de emissões de poluentes está na abordagem proativa, na preparação contínua e na capacidade de adaptação rápida.
“O setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil precisa adotar uma abordagem multifacetada e agressiva. Estas ações imediatas não apenas abordam a questão das emissões, mas também promovem a modernização e eficiência do setor como um todo. A implementação bem-sucedida dessas medidas requer um esforço coordenado entre governo, setor privado e sociedade civil. É de grande importância que haja um equilíbrio entre incentivos, regulações e investimentos para superar os desafios estruturais e econômicos do Brasil e atingir as metas de redução de emissões de poluentes a longo prazo”, ressaltou.