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“Logística verde não é uma solução de balcão”, diz Vanessa Reiter Pilz, da Reiter Log

Publicado em 17/07/2024

Em entrevista exclusiva para a MundoLogística, diretoria de ESG pontuou desafios do compromisso com a agenda sustentável, as maneiras de medir o impacto dessas iniciativas e muito mais

Por Christian Presa

“Logística verde não é uma solução de balcão”, diz Vanessa Reiter Pilz, da Reiter Log
Vanessa Reiter Pilz, diretora de ESG da Reiter Log (Foto: Divulgação)

Não restam dúvidas de que a logística sustentável se torna, cada vez mais, uma pauta mandatária no setor. Esse impacto é notado desde a agenda pública, com o Governo Federal lançando o Plano de Logística Sustentável 2023-2027, até na agenda privada, com grandes companhias — embarcadores e prestadores de serviços logísticos — revisando a própria operação e dedicando investimentos milionários nessa agenda.

No caso da Reiter Log, um dos pilares rumo à sustentabilidade é o que eles chamam de “frota verde”. A companhia adentrou essa jornada em 2014, quando foi a primeira empresa do Brasil a implementar um veículo pesado movido a gás (GNV) e, em 2021, a Reiter Log criou uma diretoria exclusivamente para a área de ESG, lançou seu primeiro relatório de sustentabilidade e fez a maior compra individual veículos movidos a gás da Scania, com 124 cavalos. Atualmente, a empresa ressalta o fato de dispor da maior frota verde do Brasil, composta por248 veículos movidos a gás e 30 elétricos.

No entanto, a trajetória rumo à logística verde não é uma linha reta, com um checklist definitivo e certeiro de sucesso. “Digo que não é uma solução de balcão. Ter uma logística verde no portfólio de serviços não é igual fazer uma tabela de fretes e dizer ‘vamos operar’. Há todo um estudo por trás, o que demanda tempo e investimento”, explicou a diretora de ESG da companhia, Vanessa Reiter Pilz.

Em entrevista exclusiva para a MundoLogística, a executiva pontuou os desafios de se comprometer com a agenda sustentável, as maneiras de medir o impacto dessas iniciativas, a importância de fortalecer outros pilares além da sustentabilidade e muito mais!

Leia na íntegra!


MUNDOLOGÍSTICA: A Reiter Log se posiciona muito fortemente em relação à agenda ESG e à logística verde. Quais foram os principais desafios que vocês enfrentaram e quais os benefícios de terem adotado esse posicionamento?

VANESSA REITER PILZ: A Reiter Log realmente é líder em logística verde no Brasil, com a maior frota sustentável. Nosso propósito sempre foi trazer soluções para nossos clientes, e a sustentabilidade não deixa de ser uma solução, já que o transporte é um dos grandes emissores de CO2 dada a matriz energética no Brasil, que ainda muito focada no diesel —um combustível fóssil. Esse pioneirismo nos traz diversos benefícios, mas também muitos desafios, porque estamos implementando novas tecnologias que ainda não foram testadas no Brasil. Por exemplo, estamos trazendo os primeiros caminhões elétricos pesados da Volvo e da XCMG. Estamos apostando e dispostos a testar essas novas tecnologias. Outra aposta são os caminhões a gás, focando no biometano, que reduz quase 100% das emissões de CO2, sendo um combustível 100% verde. Oferecer uma solução sustentável para nossos clientes e ser reconhecidos pela busca pela sustentabilidade é muito gratificante. Isso nos abriu novas oportunidades de negócio e trouxe clientes que também têm a sustentabilidade como propósito. Acreditamos que parcerias entre empresas têm a ver com propósito. Quanto aos desafios, cito o alto investimento necessário para novas tecnologias e a infraestrutura limitada no Brasil para postos de abastecimento e recarga de veículos elétricos.

De uma forma geral, todo o mercado está olhando para essas alternativas de combustível. No caso da Reiter Log, como vocês conseguem medir os resultados dessa frota sustentável?

As rotas são calculadas e estudadas antes de operarmos. Muito disso tem a ver com a autonomia e o perfil do veículo, seja elétrico ou a gás, e também com a rede de abastecimento disponível. Após esse estudo, colocamos o veículo para rodar e medimos a eficiência, tanto em termos de autonomia quanto de consumo. Analisamos quantos metros cúbicos por km o veículo está fazendo, qual é a média de consumo e, no caso dos elétricos, qual a porcentagem de carga necessária para aquela rota. Também avaliamos o peso que podemos transportar em cada perfil de veículo. É por isso que digo que não é uma solução de balcão. Ter uma logística verde no portfólio de serviços não é igual fazer uma tabela de fretes e dizer “vamos operar”. Há todo um estudo por trás, o que demanda tempo e investimento. Com esses estudos, conseguimos medir rota a rota a redução de emissão de CO2 que alcançamos em cada trajeto.

Como você acha que a tecnologia contribui para essa premissa verde da Reiter Log?

Acredito que não dá mais para falar de logística sem falar de tecnologia. Acho que ela está atrelada a tudo na vida. Se a gente olhar para esses equipamentos sustentáveis, vemos uma alta tecnologia agregada. Desde o conforto para o motorista, ao comparar um veículo a combustão com um a gás ou elétrico — especialmente elétrico —, o ruído da cabine é quase zero. Para o motorista, que muitas vezes tem o caminhão como sua própria casa, isso faz uma grande diferença. A tecnologia permite integrar a telemetria com nosso sistema, medindo cada quilômetro rodado desses equipamentos. Trabalhamos muito forte na segurança viária também. Todos esses veículos já vêm com câmeras de fadiga. Muitos desses veículos operam em circuitos dedicados para clientes e, às vezes, rodam 24 horas por dia, claro, com troca de motoristas. Sabemos que é necessário monitorar de perto esses equipamentos, e para isso, a tecnologia é fundamental. Ela nos dá todas as informações na mão, onde quer que o veículo esteja, sem depender de papel.

Como essa questão de ESG se desdobra em relação às pessoas, tanto em relação ao pilar S quanto no fortalecimento da agenda sustentável?

Foi um grande desafio, mas foi muito legal. Quando introduzimos uma nova tecnologia, toda mudança naturalmente gera certa resistência nas pessoas. Inicialmente, muitos não queriam trocar o diesel pelo gás, achando que o caminhão a gás teria menos potência ou que o elétrico poderia deixar eles na mão. Então, tivemos que conduzir a equipe, mostrar os benefícios desses novos veículos. Escolhemos alguns colaboradores, motoristas-chave, para iniciar com esses equipamentos. Treinamos, conscientizamos e mostramos com fatos e dados como esses veículos poderiam fazer a diferença, até de forma lúdica, para os filhos e netos deles, no quesito de cuidar do meio ambiente. Também participamos de projetos que trazem crianças e adolescentes para conhecer os equipamentos, inclusive os filhos dos nossos colaboradores. Uma fala que me marcou muito foi de uma criança dizendo que o caminhão verde faz bem para as flores e frutas, associando a tecnologia sustentável ao meio ambiente. Esse é o novo consumidor, o tomador de decisão que influencia os hábitos de consumo dos pais para que seja um consumo consciente. Temos essa visão estratégica para esse novo consumidor, ainda mais por a Reiter ser uma empresa que foca não só no presente, mas também no futuro. As pessoas são, com certeza, nosso pilar mais importante. Temos mais de 40 motoristas mulheres, provavelmente uma das maiores equipes de mulheres nas frotas brasileiras. Nós reconhecemos que ainda existem barreiras que elas enfrentam nas estradas, mas internamente buscamos valorizar e proporcionar oportunidades iguais para todos, seja PCD, mulher, homem, sem distinção de gênero, cor ou qualquer outra característica. Trabalhamos fortemente essa questão de diversidade e inclusão, acreditando que todas as letrinhas do ESG devem estar interligadas para serem realmente efetivas nas empresas.

E para o futuro? Quais são os próximos passos e objetivos da Reiter Log para ESG?

Quando iniciamos nas empresas a trabalhar com o ESG, é fundamental fazer uma pesquisa de materialidade. Essa pesquisa consiste em entrevistar e pesquisar com os principais stakeholders quais são os temas materiais para a empresa. A partir disso, nós elencamos alguns temas materiais que fazem sentido para a Reiter e para o nosso negócio, e atrelamos esses objetivos de desenvolvimento sustentável escolhidos pela Reiter por meio desse trabalho em conjunto com os stakeholders estabelecendo metas, algumas de curto prazo, outras de longo prazo, e a principal delas, que me deixa muito orgulhosa, é a ODS-13, que trata da ação climática, com o objetivo de ter uma frota 100% movida a energias alternativas até 2035. Desde que começamos a trabalhar com isso, lá em 2014, já evoluímos muito. Estamos falando de dez anos atrás, quando começamos a incorporar energias alternativas na nossa frota, fortalecendo ainda mais essa iniciativa em 2021, quando fizemos a maior compra individual da Scania de veículos 100% a gás, com 124 caminhões em uma só compra. Com o passar do tempo, dobramos esse pedido, consolidando nossa liderança no mercado. A gente acredita que não existe uma única alternativa para o Brasil evoluir na questão de sustentabilidade no transporte, por isso estamos testando diversas opções e acreditamos que muitas outras ainda estão por vir. Temos essa meta de migrar gradualmente nossa frota para energias alternativas, e isso é um objetivo real na nossa empresa.

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