A inovação caminha a passos largos no universo logístico. De acordo com dados da Strategic Market Research, já em 2021, US$ 18,1 bilhões foram investidos globalmente por empresas da cadeia de Supply Chain em soluções digitais e a expectativa é que esse mercado alcance mais de US$ 77 bilhões até 2030. Dentro desse contexto, é importante salientar que a transformação digital da área logística assume também um protagonismo decisivo dentro da busca por mais sustentabilidade no setor.
E, além de contribuir para a redução das emissões de CO2 – muito em linha com a agenda ESG que avança em diferentes segmentos da economia e os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU –, a “inovação verde” traz também ganhos operacionais, incluindo a redução de custos no longo prazo para as empresas logísticas.
LOGÍSTICA VERDE: PILARES E O PAPEL PARA REDUÇÃO
Para entendermos com mais clareza a relação entre inovação, sustentabilidade e eficiência operacional no setor logístico, é interessante analisarmos, em mais detalhes, o conceito de logística verde, mercado que deve movimentar cerca de US$ 1,2 trilhão em investimentos ao redor do mundo em 2024 segundo a Mordor Intelligence.
Em linhas gerais, a logística verde pode ser definida como um conjunto de esforços das empresas no sentido de reduzir o impacto ambiental de suas operações, sem que se abra mão de experiências positivas para os clientes e seus respectivos ganhos financeiros.
Sobre esse ponto, aliás, é válido citar uma pesquisa recente da Boston Consulting Group, na qual foi constatado que 89% dos consumidores brasileiros se preocupam com as práticas sustentáveis das empresas na hora de uma compra – ou seja, não se atentar para essa questão pode, inclusive, ter impactos diretos no faturamento das organizações.
Em relação aos principais vetores da logística verde, por sua vez, podemos citar:
Investimentos em inovação que incluem desde a digitalização de documentos e relatórios logísticos – a partir de uma mentalidade paperless que vem ganhando espaço nas empresas – até tecnologias avançadas de IA e analytics que podem, por exemplo, monitorar o consumo e desgaste das frotas e planejar rotas visando menores gastos com abastecimento e uso de combustíveis fósseis;
Armazenamento inteligente com foco na redução do uso de plásticos e investimentos em embalagens sustentáveis/reutilizáveis, além da aplicação de políticas e tecnologias para a redução do uso de energia/água nos depósitos e armazéns;
Gestão logística orientada por dados, com aplicação de indicadores de sustentabilidade operacional;
Estratégias integradas de logística reversa e da otimização das cadeias de suprimentos circulares, tanto no sentido de minimizar impactos com devoluções quanto no máximo aproveitamento de matérias-primas.
IMPACTOS POSITIVOS NA CADEIA OPERACIONAL DAS EMPRESAS
Os benefícios da logística verde – e, ato contínuo, de um maior uso da tecnologia com foco em sustentabilidade nas operações logísticas – são amplos. Na sequência, separamos alguns dos maiores ganhos estratégicos que demonstram como essa mentalidade, alinhada aos princípios ESG, trazem vantagens em termos de eficiência para as empresas:
Redução de custos com uso de combustíveis: segundo estimativas de fabricantes, caminhões elétricos podem rodar até 300 KM com apenas carga de bateria e, de acordo com a JAC Motors – em matéria do Portal Solar – o caminhão elétrico apresenta uma economia de R$ 1,32 no custo por quilômetro rodado, na comparação com veículos a diesel;
A partir do uso integrado de dados nas operações logísticas, há um maior controle não só sobre os indicadores de sustentabilidade, mas de toda a cadeia de processos das empresas e transportadoras, fator que tende a contribuir a identificação de gargalos operacionais, otimização de relacionamento com fornecedores e clientes, além do desenho de estratégias de crescimento ancoradas em cenários preditivos;
Ganho de credibilidade com clientes e stakeholders;
Adequação às exigências de políticas ambientais e regulações nacionais e internacionais;
Redução da emissão de CO2 no meio ambiente e contribuição direta para a redução da poluição nas comunidades e rotas logísticas. Um exemplo nesse sentido é o da Seara, que conta com a operação de um Veículo Urbano de Carga (VUC) com propulsão 100% elétrica com rota entre Itajaí e Balneário Camboriú (SC). Segundo cálculos da empresa do Grupo JBS divulgados pela Engie, o veículo deixa de emitir 5 toneladas de monóxido de carbono mensalmente, além de apresentar custo operacional até três vezes menor do que os VUC tradicionais movidos a diesel.
OPORTUNIDADE PARA AS EMPRESAS
Além da Seara, outras empresas como a DHL – que conta com o programa de proteção ambiental GoGreen – e a FedEx, apenas para citar alguns exemplos, tem tido sucesso na implementação de políticas de sustentabilidade que, certamente, tem na inovação uma de suas bases.
Dentre os desafios para a expansão desse cenário – sobretudo no contexto de organizações de menor porte – envolve a falta de capacidade de investimentos em tendências como os caminhões elétricos. A boa notícia é que estimativas indicam que, até 2035, estes caminhões terão preços mais competitivos no mercado – inclusive podendo custar menos do que os veículos a diesel.
Além disso, os investimentos em soluções para a digitalização de documentos, ferramentas de monitoramento de desgaste de veículos e uso de combustível, tecnologias para o planejamento de rotas mais eficientes e até com base em IA, hoje, já podem ser acessadas por diferentes perfis de empresa, ampliando o ecossistema de inovação na cadeia logística brasileira e trazendo ganhos concretos em termos de sustentabilidade. É uma oportunidade que não pode ser deixada de lado no novo contexto de um mercado em que a agenda ESG se coloca, como vimos, estratégica para o crescimento.