Sem logística reversa, não é possível falar em ESG

A logística reversa assume um papel fundamental diante do avanço das políticas de ESG nas empresas. E isso porque, a partir de uma gestão eficiente dos processos de coleta, transporte e armazenamento de resíduos – bem como, do controle assertivo no cadeia de retorno de produtos, embalagens e materiais pós-consumo para o ciclo produtivo – é possível reduzir os impactos ambientais, promover a sustentabilidade e maximizar o aproveitamento de recursos, diminuindo ainda os custos de produção nas organizações.

Dentro desse contexto, é positivo observar, primeiramente, um avanço nos processos de logística reversa em setores como os de alimentos e bebidas, cosméticos e indústria. Atualmente, estima-se que os investimentos nesse enfoque fundamental para a sustentabilidade girem em torno R$ 130,00 por tonelada de resíduos gerados nas empresas.

Em contrapartida, o cenário é ainda é bastante crítico no Brasil: o estudo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apontou que apenas 4% dos resíduos são reaproveitados ou reciclados no Brasil.

Considerando uma perspectiva global, o cenário é mais otimista: segundo números da Allied Market Research, até 2022, quase US$ 631 bilhões foram investidos em logística reversa ao redor do mundo – a expectativa é que esses investimentos alcancem US$ 947,7 bilhões em 2032 (alta de 4,3% ao ano).

O panorama global, aliás, só acende o alerta para que o Brasil dê passos mais concretos em prol de uma gestão eficiente de resíduos e consequente redução dos impactos ambientais no ciclo produtivo do país.

As empresas e a sociedade só têm a ganhar com essa evolução, a partir de benefícios que incluem:

• Otimização das políticas de ESG nas empresas e potencial atração de investimentos dentro de um mercado de capitais em que os “fundos verdes” passam a ser, cada vez mais, valorizados;
• Redução dos impactos ambientais e poluição;
• Diminuição potencial do custo produtivo a partir do reaproveitamento de resíduos e descartes;
• Maior eficiência operacional das empresas;
• Alinhamento com as expectativas de boa parte dos consumidores no contexto atual da economia.

AVANÇOS REGULATÓRIOS PARA A LOGÍSTICA REVERSA

O ambiente regulatório dos países é fundamental para que a logística reversa ganhe impulso ao redor do mundo.

No Brasil, por exemplo, a logística reversa ganhou destaque a partir da promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2010. Esta legislação estabeleceu diretrizes para o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos, incluindo a responsabilidade compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores e consumidores na destinação correta dos produtos ao final de sua vida útil.

E, conforme destacado em reportagem de 2021 do Governo Federal, um dos pilares da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Política Nacional de Resíduos Sólidos envolve o incentivo para que consumidores façam o descarte adequado das embalagens de forma geral, "das pilhas e baterias, dos pneus, também do óleo lubrificante usado ou contaminado, embalagem desse óleo lubrificante usado ou contaminado, as lâmpadas fluorescentes, as latas de alumínio e também os eletroeletrônicos".

O texto destaca ainda que esses são exemplos de materiais que devem ser descartados em um dos pontos de entrega voluntária espalhados pelo país e que podem ser consultados nas autarquias municipais. Em São Paulo, por exemplo, esse descarte consciente é feito nos ecopontos da cidade.

E, dentro desse processo de maior atenção para a logística reversa, o Brasil avançou algumas casas no fator de sustentabilidade: em estudo de 2023, a Associação Recicla Latas apontou números que destacam o fato de que o país gerou um retorno de R$ 6 bilhões com a reciclagem de latas de alumínio.

No âmbito regulatório, merece também destaque a tramitação da PL 2524/2022, que visa reduzir a circulação de embalagens plásticas no país e pode ser um incentivo importante para o avanço do mercado de embalagens sustentáveis, segmento que, segundo a Mordor Intelligence, deve movimentar mais de US$ 292 bilhões mundialmente este ano.

ESTRATÉGIAS PARA OTIMIZAR PROCESSOS DE LOGÍSTICA REVERSA

A otimização das estratégias de logística reversa é também um passo necessário quando consideramos a gestão de custos e receitas das empresas. E essa questão é especialmente relevante em mercados como o e-commerce.

Tomando como exemplo um estudo recente sobre o mercado americano, 87% dos comerciantes que atuam no digital relataram um aumento nas taxas de devolução em 2023, ao passo que 79% enfrentaram desafios devido aos recursos limitados de armazenamento.

Nesse sentido, algumas dicas e estratégias podem apoiar as empresas:

• Uso de inovação: um estudo da Liga Ventures aponta que, atualmente, o Brasil possui 239 startups de logística (logtechs), muitas delas desenvolvedoras de soluções de logística reversa. Além disso, tecnologias para o planejamento de rotas, armazenagem inteligente e gestão de resíduos podem reduzir custos no fluxo logístico e produtivo das organizações;
• Centros de coleta: contar com centros de coleta em grandes centros pode facilitar e diminuir os custos nos retornos dos consumidores. Sobre esse ponto, o supracitado estudo do mercado americano de e-commerce aponta que 94% dos compradores estão dispostos a viajar até 2 milhas para devoluções presenciais;
• Integração da logística reversa às políticas ESG: a logística reversa, por fim, deve ser encarada dentro de uma perspectiva macro de sustentabilidade da organização, de modo que os esforços sejam integrados de modo a facilitar toda a cadeia operacional.

O fato é que, em um mercado no qual a sustentabilidade passa a ser uma diretriz das escolhas de consumo, a logística reversa não deve ser encarada somente como uma meta ideal, mas como uma questão determinante para o crescimento das empresas.