Gigantes da Logística: A operação da Braskem em números

Série “Gigantes da Logística” mostra como a companhia movimenta milhões de toneladas por ano, investindo em navios, cabotagem e sustentabilidade para manter posição no mercado

Publicado em 10/10/2024 — por Christian Presa
Gigantes da Logística: A operação da Braskem em números
Companhia é destaque na segunda reportagem da série “Gigantes da Logística” (Arte: MundoLogística)

Capilaridade e robustez definem a logística da Braskem no país. Atualmente, a empresa do setor petroquímico dispõe de uma operação logística que movimenta mais de 20 milhões de toneladas por ano e um orçamento que chega a R$ 4 bilhões. A segunda reportagem da série “Gigante da Logística” se aprofunda nesses números.

 

Segundo Silvia Migueles, diretora de Logística da Braskem, a infraestrutura da companhia é um pilar estratégica para manter a competitividade da petroquímica no cenário global, atendendo tanto o mercado interno quanto as operações internacionais.

“Na América do Sul, a logística da Braskem é um componente importantíssimo, um pilar estratégico dos nossos negócios. Movimentamos mais de 20 milhões de toneladas por ano, e a nossa logística de olefinas e poliolefinas — que é o que movimentamos aqui na região — envolve um orçamento anual que pode chegar a R$ 4 bilhões, dependendo do ano”, explicou.

A empresa opera uma rede de 22 unidades industriais no Brasil, que são atendidas por 17 terminais próprios ou de terceiros e 25 armazéns ou centros de distribuição. Além disso, a Braskem possui investimentos na manutenção de ativos e expansão de sua infraestrutura.

“Quando falamos dos nossos ativos, a manutenção e os projetos de investimento somam quase R$ 2 bilhões no portfólio plurianual de CAPEX da empresa”, destacou Migueles.

CAPILARIDADE E INTEGRAÇÃO MULTIMODAL

A complexidade da operação logística da Braskem está na diversidade de produtos que a companhia movimenta, exigindo uma abordagem multimodal. Resinas como polietileno, polipropileno e PVC movimentam 8,4 milhões de toneladas por ano — desses, 94% são transportados por caminhão e 6% por navio, seja cabotagem ou exportação.

Já a logística de líquidos e gases, que inclui produtos como gasolina, benzeno, solventes e gases industriais como propeno e butadieno, tem uma dinâmica diferente. Enquanto a movimentação do grupo é majoritariamente rodoviária, 74% dos líquidos e gases são transportados por navio — e apenas 26% por caminhão.

“Movimentamos 13,7 milhões de toneladas de líquidos e gases por ano. […] Esses produtos, por suas características, exigem uma abordagem logística mais integrada ao modal marítimo”, explicou a diretora de Logística.

Mesmo assim, a executiva pontuou que a dependência do transporte rodoviário no Brasil é um desafio constante. “O Brasil tem um problema muito sério de dependência do modal rodoviário. Isso não é um problema só da Braskem, mas do país como um todo. Por exemplo, no México, onde também temos operação, a movimentação é massiva por ferrovia. Chegamos a carregar vagões dentro da planta e transportamos até os Estados Unidos. Aqui no Brasil, infelizmente, a ferrovia não tem essa integração com outros modais, o que gera muita dependência do caminhão”, refletiu.

Além disso, Migueles citou as dificuldades logísticas relacionadas à infraestrutura rodoviária e portuária do país. “As condições das rodovias são um problema muito sério, assim como as longas filas nos portos. Mesmo com os avanços na cabotagem, que hoje já oferece soluções mais integradas, se as estradas e os portos continuarem deficientes, nunca teremos uma cadeia logística realmente eficiente”, advertiu.

EXPANSÃO DA FROTA MARÍTIMA E INVESTIMENTOS NO FUTURO

A Braskem tem buscado mitigar parte dessa dependência com investimentos em cabotagem e na expansão de sua frota de navios. Atualmente, a companhia opera oito navios em regime de Time Charter, com um custo anual de US$ 80 milhões — aproximadamente R$ 440 milhões, em conversão direta. A empresa também lançou o projeto “Seas of the Future”, que prevê a construção de novos navios. “Dois desses navios devem ficar prontos até o final do ano, e serão utilizados em nossa operação no México”, comentou Migueles.

Recentemente, a companhia também se tornou uma Empresa Brasileira de Navegação (EBN), o que permite à petroquímica operar diretamente no transporte marítimo de gás por cabotagem. “Trouxemos um navio em regime bareboat para realizar a cabotagem de propeno, transportando da nossa fábrica na Bahia até o Rio de Janeiro. Esse é um passo importante para reduzir nossa dependência do modal rodoviário e otimizar a logística de produtos químicos”, explicou a executiva.

SUSTENTABILIDADE E TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

Digitalização e desenvolvimento sustentável são temas cada vez mais presentes na agenda das empresas e, com a Braskem, não seria diferente. Em termos de sustentabilidade, a empresa se destaca como a primeira produtora mundial de polietileno verde, derivado de fontes renováveis. “Sustentabilidade é um valor fundamental para a Braskem. Nós somos os líderes globais na produção de polietileno verde, e temos uma nova planta sendo desenvolvida na Tailândia. Além disso, temos também uma recicladora, o que reforça nosso compromisso com a economia circular e a redução da pegada de carbono”, apontou a diretora.

A companhia também tem avançado na transformação digital, com a adoção de ferramentas que melhoram a eficiência e a gestão de sua operação logística. “Desenvolvemos uma ferramenta chamada LoadShark, agora conhecida como Pace, que possibilita o compartilhamento e o leilão de cargas, otimizando o uso de recursos”, disse Migueles. “Além disso, estamos utilizando inteligência artificial para posicionar melhor nossos produtos em centros de distribuição e armazéns. Acho que evoluímos muito, mas ainda há muito caminho a percorrer nesse campo.”

DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Apesar dos avanços, Silvia Migueles reconhece que ainda existem desafios significativos no panorama logístico do Brasil. “A falta de integração entre os modais é um problema que ainda precisa ser resolvido. Hoje, a cabotagem oferece uma solução mais completa, mas se as rodovias e os portos não acompanharem essa evolução, a logística continuará sendo um gargalo para o desenvolvimento do país”, ressaltou.