Em contrapartida, levantamento da nstech relevou que Nordeste reduziu a participação no cenário; cargas fracionadas e produtos alimentícios permaneceram no foco das quadrilhas
Por Camila Lucio
Região Sul aparece como terceiro colocado no ranking (Foto: Shutterstock)
Em 2023, o Brasil registrou mais de 17,1 mil roubos de carga, um crescimento de 4,8% na comparação com o ano anterior. Segundo cálculos da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, o prejuízo anual ultrapassa R$ 1,2 bilhão. Conforme dados divulgados nesta semana na “Análise anual de roubo de cargas nstech”, o Sudeste continua na liderança dos prejuízos e ocorrências de roubo de cargas. O relatório completo está disponível aqui.
A região registrou crescimento de 10,5% em relação a 2022. Em contrapartida, o Nordeste reduziu a participação no cenário de roubos — em 2022, a região teve o maior crescimento nos roubos, uma alta de 37% em relação a 2021 e reverteu o cenário, passando de 15% em 2022 para 8,3% em 2023.
Conforme o relatório, o Sul apareceu como terceiro colocado no ranking por região, subindo de 3% em 2022 para 6,5% em 2023. Já o Centro- Oeste reduziu em 50% os prejuízos com o roubo de cargas. Destaque para o Norte, que caiu de 1,5% para 0,1% na comparação entre 2022 e 2023.
“No final do dia, 99,9% das cargas no Brasil têm seguro em virtude da alta criminalidade, da alta concentração que temos de roubo de cargas. Nos últimos 20 anos, o Brasil vem figurando sempre na relação de países com maior criticidade para roubo de cargas no mundo. Então, trazemos esses dados para enriquecer a qualidade das operadoras e para que os embarcadores e transportadores possam tomar medidas antes para evitar, prevenir realmente o risco, fazer uma gestão preditiva”, explicou o VP de Inteligência e Relacionamento de Mercado da nstech, Mauricio Ferreira.
TIPO DE CARGA
As operações com cargas fracionadas e produtos alimentícios permaneceram entre as mais visadas pelas quadrilhas de roubo de cargas. Juntos, estes tipos de carga representaram 66,5% dos prejuízos. Em 2023, os cigarros ocuparam a terceira posição no ranking, com um aumento de 3,2 pontos percentuais em relação à 2022 – quando ocupavam o sexto lugar, com 4,6% dos sinistros.
As bebidas registraram queda de 80% no prejuízo com roubo de cargas. Já os prejuízos em ocorrências envolvendo medicamentos saltaram de 3,3% em 2022 para 7,2% em 2023
ÁREAS URBANAS X RODOVIAS
Segundo a pesquisa, os trechos urbanos permanecem na liderança dos locais campeões em abordagem de criminosos. As áreas com maiores prejuízos foram nas rotas SP X SP (50,9%) e RJ X RJ (8%). Nos trechos urbanos, as mercadorias mais visadas foram as cargas diversas, cigarros, medicamentos, alimentícios e eletrônicos. Juntos, representaram 89,2% do prejuízo.
Conforme dados da análise, entre as rodovias, destaque para a BR-050, com 7% do prejuízo total em 2023. O trecho mais vulnerável foi o que liga Goiás e São Paulo, com 31,3% dos prejuízos. Na BR-050, as ocorrências foram concentradas às quartas-feiras, com 34,1% dos prejuízos registrados no período da tarde e as cargas mais visadas foram as fracionadas, com 80,7% dos prejuízos.
A BR-116, reconhecida pela tradicional vulnerabilidade, registrou 6% dos prejuízos com roubo de cargas em 2023. Em 2022, esse percentual era de 13%.
Nas rodovias, as cargas diversas somaram 58,1% do prejuízo, seguida por produtos alimentícios (20,4%) e químicos (8,5%). As ocorrências foram concentradas no período da madrugada, com destaque para as terças-feiras (28,1%) e sextas-feiras (20,6%).
DESEMPENHO DOS ESTADOS
Segundo o levantamento da nstech, as três primeiras posições do ranking de prejuízos por estado não sofreram alterações em 2023 na comparação com 2022. Conforme percentual por valor de prejuízo, São Paulo ocupa a primeira colocação com 50,2%, seguido do Rio de Janeiro (18,2%) e Minas Gerais (12,9%).
Em compensação, o Paraná registrou aumento de 2,4 pontos percentuais e subiu da nona posição para o quarto lugar. Outros estados que tiveram crescimento nos prejuízos entre os anos de 2022 e 2023 foram Santa Catarina (de 0,4% para 1,9%), Espírito Santo (de 0% para 1,3%), Mato Grosso do Sul (0,3% para 0,6%) e Alagoas (0,2% para 0,6%). Os estados em queda foram BA, PE, GO, RS, MA, PI, CE, MT, PA, PB, AM, RN e TO.
INVESTIMENTOS EM GERENCIAMENTO DE RISCO
A análise também aponta que em 2023 as três gerenciadoras de risco do grupo nstech gerenciaram mais de R$ 1,9 trilhão em cargas nas mais de 15 milhões de viagens realizadas pelos clientes. Os indicadores contemplam sinistros evitados, sinistros recuperados e sinistros nos quais as quadrilhas lograram êxito.
Em 2023, considerando a média das três gerenciadoras de risco do ecossistema nstech (BRK, Buonny e Opentech), foi registrado o maior e melhor índice de sinistros evitados/recuperados: 74%. Segundo a statup, esse percentual corresponde a mais de R$ 340 milhões em sinistros evitados ou recuperados em 2023.
De acordo com o CEO e fundador da nstech, Vasco Oliveira, apesar de ainda ter um caminho extenso pela frente, 2023 foi um ano importante para demonstrar que os esforços feitos pelo mercado em direção à segurança rodoviária estão se refletindo positivamente.
"Na nstech, temos realizado o gerenciamento de risco efetivo e constantes investimentos em inovação, fortalecendo a tríade de soluções que oferecemos para a segurança logística: cadastro, monitoramento e gestão de contratos. Precisamos nos unir cada vez mais para continuar desenvolvendo recursos que minimizem o cenário progressivamente. Para isso, a colaboração é a melhor saída", disse.
PANORAMA DOS ÚLTIMOS ANOS
De acordo com o VP de Inteligência e Relacionamento de Mercado da nstech, Mauricio Ferreira, a tendência de prejuízos de roubos de cargas no Brasil flutuou entre R$ 1,2 e R$ 1,5 bilhões nos últimos 10 anos. Em relação à quantidade, estava reduzindo, apesar de um pico máximo em 2017, mas de 2021 para 2022 houve um leve aumento, em torno de 600 ocorrências a mais.
Ainda conforme explicação do executivo, no ano passado piorou: saiu de cerca de 14 mil para cerca de 17 mil a mais. “Ou seja, em quantidade voltou a crescer e em valores ele manteve. O que mudou? Primeiro, a complexidade de logística, principalmente às questões relacionadas ao e-commerce. As indústrias querem estar mais perto e atender o cliente do jeito que ele quer. E nós, clientes finais, queremos receber mais rápido, aumentando o transporte rodoviário”, explicou.
PARTICIPAÇÃO DO PODER PRIVADO
Na avaliação de Mauricio Ferreira, o roubo de carga não é combatido pelo poder público. "O poder público não combate. Na nossa visão, quem faz a diferença e quem traz o controle no roubo de carga é o poder privado. São as empresas, são as transportadoras e são investimentos 100% privados nas gerenciadoras e em todo o ecossistema de tecnologia que mantém sob controle a criminalidade. Somente nós evitamos um prejuízo de R$ 340 milhões. Com as três gerenciadoras de riscos, temos 50% do mercado", ressaltou.