Segundo levantamento recente do Data Favela e do Instituto Locomotiva, cerca de 36,2 milhões de pessoas em comunidades de todo Brasil não recebem compras feitas online devido à falta de CEP
Por Pedrinho Jr.
Ao longo dos mais de 20 anos de operação do Carteiro Amigo Express foram muitos desafios (Foto: Divulgação)
A logística de entrega é um aspecto fundamental para operar em qualquer localidade, mas quando se trata de áreas urbanas menos favorecidas, como as favelas, os desafios logísticos tornam-se especialmente complexos. Nesses espaços, o acesso é muitas vezes restrito, as ruas em sua maioria são estreitas e grande parte não é pavimentada, e a infraestrutura pode ser precária.
Segundo levantamento recente do Data Favela e do Instituto Locomotiva, cerca de 36,2 milhões de pessoas em comunidades de todo Brasil não recebem compras feitas online e têm acesso limitado a serviços essenciais devido à falta de CEP, que dificulta o recebimento de encomendas.
A complexidade da logística urbana em favelas envolve alguns fatores peculiares, por isso, precisa ser muito bem planejada, e é fundamental, o tempo todo, considerar a possibilidade de imprevistos e dificuldades relacionadas ao acesso ao local de entrega, ou à identificação do destinatário.
Ao longo dos mais de 20 anos de operação do Carteiro Amigo Express — se considerarmos a fundação da empresa, em meados dos anos 2000, que originou a logtech —, foram muitos desafios, que levaram a adquirir o know-how necessário para superar todos os percalços.
Considerando essa trajetória, listei alguns pontos cruciais a se atentar para entregar com alto nível de eficiência dentro das comunidades:
ACESSO LIMITADO E FALTA DE INFRAESTRUTURA
Ruas estreitas são uma característica comum dentro das comunidades, o que dificulta o acesso dos veículos de entrega. Muitas vezes, essas vias não são mapeadas ou são mal sinalizadas, tornando a navegação ainda mais desafiadora.
A frequente falta de infraestrutura básica, como pavimentação adequada, iluminação e serviços de água e esgoto- pode dificultar ainda mais as operações de entrega. Além disso, a ausência de endereços padronizados pode impedir a localização 100% precisa dos destinatários.
TECNOLOGIA DE MAPEAMENTO AINDA POUCO DISSEMINADA
O uso de tecnologias de mapeamento avançado, como GPS de alta precisão e imagens de satélite, ajudam as empresas de logística a planejar rotas eficientes e precisas, mesmo em áreas com infraestrutura limitada.
No entanto, grande parte das comunidades não conta com esse tipo de recurso. Há projetos em curso para levar essa tecnologia a comunidades como a Rocinha, a maior do Brasil, onde vivem 17 milhões de pessoas, mas são iniciativas ainda sendo implementadas, e que não cobrem toda a extensão das favelas, nem todas as comunidades.
Estimam-se que são mais de 10 mil favelas em todo o Brasil — então, o desafio nesse sentido é enorme.
DEMANDA POR VEÍCULOS ESPECIALIZADOS
O uso de veículos compactos e ágeis — como motos ou bicicletas de carga —, de forma geral é mais adequado para navegar pelas ruas estreitas das favelas. Além disso, veículos elétricos podem ser uma opção mais sustentável e econômica.
Entregar mercadorias em favelas apresenta uma série de desafios únicos para as empresas de logística, desde o acesso limitado até questões de segurança e infraestrutura precária. No entanto, com o uso estratégico de tecnologia, parcerias locais e abordagens sensíveis às necessidades da comunidade, é possível superar esses desafios e garantir entregas eficientes e seguras.
BARREIRAS CULTURAIS E SOCIAIS
As favelas muitas vezes têm estruturas sociais e culturais únicas, o que pode afetar as interações com os residentes locais. Compreender e respeitar essas diferenças é essencial para o sucesso das entregas.
Costumo dizer que a comunidade, para quem não vive nela, é um ‘mundo à parte’. É preciso, antes de atuar dentro da favela, conhecer bem as regras e a sociedade local, para evitar desgastes e imprevistos nas operações. Conhecer bem a realidade local e os moradores, a dinâmica das relações sociais e do dia a dia da favela é o primeiro passo para qualquer operação nos morros ter mais chances de dar certo.
Ao enfrentar todos esses obstáculos de frente, as empresas não apenas expandem sua capacidade de atender a novos mercados, mas também contribuem para o desenvolvimento econômico e social dessas comunidades, que costumam ser tão marginalizadas.
* Pedrinho Jr. é CEO do Carteiro Amigo Express.