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Por que 18,9% dos alunos formados em Logística estão desempregados no Brasil?

Resultado da pesquisa realizada pelo Instituto Semesp causou estranheza, vista a demanda recorrente por profissionais qualificados no setor

Publicado em 23/09/2024 — por Christian Presa
Por que 18,9% dos alunos formados em Logística estão desempregados no Brasil?
Imagem ilustrativa (Foto: Freepik)

Segundo o Instituto Semesp, 18,9% dos alunos que se formaram em logística estão desempregados no Brasil. O estudo foi realizado entre agosto e setembro deste ano e entrevistou 5.681 egressos do ensino superior, tanto da rede pública quanto da privada, em todos os estados do país. As informações foram divulgadas pelo G1.

O percentual causou estranheza, visto que uma demanda recorrente no setor é a busca por de mão de obra qualificada. O tema foi, inclusive, capa da MundoLogística de março/abril, edição na qual o especialista Luiz Carlos Roque Junior pontuou que a falta de profissionais qualificados “é um desafio crescente que tem repercussões profundas e abrangentes em toda a indústria. Em algumas indústrias, a lacuna de talentos pode ameaçar a capacidade das empresas competirem a um nível global”.

Então, por que existem, simultaneamente, oferta de vagas e profissionais desempregados? Segundo o professor titular em Logística e Transportes da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Orlando Fontes Lima Jr., esse é um paradoxo do cenário atual, em todas as áreas. “Esses dois mundos não se conversam. As empresas querem determinadas qualificações que não são compatíveis com as formações dadas aos profissionais.”

Esse paradoxo é reforçado pela velocidade das mudanças no mercado de trabalho, especialmente em relação à tecnologia. De fato, o “Future of Jobs 2023”, do Fórum Econômico Mundial, apontou que um em cada quatro empregos vai mudar até 2027 e, nesse cenário, serão criados 69 milhões de novos empregos e 83 milhões, eliminados. O relatório também acentuou que a tecnologia e o aumento do acesso digital gerarão uma crescente de empregos, porém, com maiores compensações de perdas.

Essa liquidez no mercado de trabalho global vai na contramão do que se observa nas universidades brasileiras. De acordo com Fontes, as instituições de ensino são, em grande parte, “conteudistas” — ou seja, seguem o fluxo tradicional de que o professor passa conhecimento para os alunos de forma unilateral. “Uma parte delas [as instituições] desenvolve habilidades aplicadas, mas poucas instituições trabalham com a questão das atitudes do profissional.”

A visão do professor se alinha à da especialista Carolina Cabral. Em entrevista exclusiva para a MundoLogística em abril de 2023, ela destacou a defasagem das grades curriculares das instituições brasileiras frente às demandas e tendências do mercado. “Não consigo opinar sobre a estrutura curricular de logística fora do Brasil, mas sei que a estrutura curricular de um curso de logística de terceiro grau no Brasil está defasada. Até porque participo de fóruns com professores e líderes de cadeiras de logística em universidades e eles mesmos têm uma luta dentro das universidades para mudança curricular.”

No entanto, ela enfatizou que essa defasagem entre os egressos do ensino superior e o que o mercado espera não é apenas técnica, mas também comportamental. “Quando a gente chega no mercado de trabalho, em uma primeira entrevista, já é esperado que o candidato de uma vaga de entrada saiba se comportar, tenha equilíbrio emocional para esperar o entrevistador terminar de falar, não fale mal da faculdade ou do trabalho anterior e se esforce para dar evidências”, explicou.

Atualmente, Orlando Fontes Lima Jr. é coordenador do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes (LALT) da Unicamp, que também foi fundado por ele. De acordo com o professor, a metodologia no LALT é capacitar os alunos a terem a capacidade de aprender o que for preciso. “Não adianta ensinar [de forma tradicional, pois] as coisas fluem e mudam muito rapidamente.”

PROFISSIONAL DE LOGÍSTICA: PIRÂMIDE BAIXA E COM A BASE LARGA

Analisando a questão do mercado de trabalho em logística de forma geral, Orlando Fontes Lima Jr. fez uma analogia, dizendo que “a pirâmide do profissional de logística é muito baixa e com uma base muito larga”.

“Ou seja, há poucos executivos, ao mesmo tempo em que existe um volume muito grande de [posições para] mão de obra, pois a operação logística é [formada de] mão de obra intensiva”, explicou. “Tradicionalmente, os setores de mão de obra intensiva mantêm um buffer de desempregados para poder se renovar e manter um nível salarial mais baixo.”

No entanto, existe também um déficit de profissionais para os cargos de gestão — e isso está conectado à escassez de mão de obra para os cargos de operação. Em entrevista exclusiva para a MundoLogística, o CEO da Mapa Avaliações, Luciano de Paula, enfatizou que não existe um histórico em relação à formação na liderança ou para uma visão de liderança no setor de logística.

“O que geralmente acontece é colocar pessoas que são ótimos técnicos em atividade de liderança sem um prévio de desenvolvimento para aquela pessoa executar tal atividade”, disse o especialista. “Existe essa fala tradicional no mercado que diz o seguinte: às vezes, a gente traz um ótimo técnico para um cargo de liderança e acaba perdendo um ótimo técnico e não tendo um líder.”