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Estradas fechadas e falta de manutenção na infraestrutura logística afastam investimentos em M&A, diz economista

Publicado em 23/03/2023

Bloqueios causados por deslizamentos prejudicam escoamento de produção; fechamento parcial da BR-277 entre Curitiba e Paranaguá já causa prejuízo estimado de R$ 100 milhões, segundo a Fetranspar

Por Redação

Estradas fechadas e falta de manutenção na infraestrutura logística afastam investimentos em M&A, diz economista
Para o economista, situações como essas de bloqueios nas rodovias influenciam negativamente o ambiente de negócios no Brasil (Foto: Divulgação)

Os constantes bloqueios registrados nas rodovias brasileiras devido ao excesso de chuvas e deslizamentos de terras têm causado muitos prejuízos à população e à economia de uma forma geral. Mas a falta de manutenção na infraestrutura logística e a dependência rodoviária do setor produtivo podem impactar negativamente a atração de investimentos estrangeiros ao Brasil. A avaliação é do economista Adam Patterson, sócio da Redirection International, empresa especializada em assessoria de fusões e aquisições (M&A).

“As condições precárias das rodovias e a demora do poder público para solucionar este problema são fatores que encarecem a logística e, consequentemente, toda a cadeia produtiva. Isso eleva o custo para novas empresas que queiram se fixar no país, podendo afastar os investimentos internacionais em M&A, que tendem a priorizar outros mercados, onde haja mais estrutura para o escoamento da produção”, destacou Patterson.

Na BR-277, por exemplo, entre Curitiba e Paranaguá, a instabilidade da encosta bloqueia parcialmente a pista há cinco meses. No início de março, no entanto, a situação piorou com o afundamento da pista em dois pontos distintos da rodovia após fortes chuvas atingirem a região, chegando a ficar totalmente bloqueada no sentido litoral, analisou o economista. De acordo com uma estimativa da Federação das Empresas de Transportes do Paraná (Fetranspar), o prejuízo acumulado no setor chega a R$ 100 milhões desde outubro.

A rodovia é a principal ligação ao Porto de Paranaguá, o segundo maior em movimentação de cargas do Brasil – atrás apenas de Santos (SP). Desde novembro de 2021, o trecho entre Curitiba e o litoral do estado está sob responsabilidade da União, após o vencimento do contrato com a concessionária Ecovia, que fazia a manutenção da via.

Segundo o economista, com o transporte mais lento e sem perspectivas de liberação total da rodovia, muitos produtores estão direcionando suas cargas para o porto de Santos, encarecendo os custos com o transporte. Estudo realizado pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) aponta que o prejuízo para o escoamento da soja produzida no estado pode ultrapassar R$ 600 milhões com essa mudança no itinerário.

Para Adam Patterson, situações como essas de bloqueios constantes nas rodovias influenciam negativamente o ambiente de negócios no Brasil e elevam o chamado Custo Brasil, conjunto de fatores que dificultam a operação comercial de empresas como a infraestrutura, legislação e tributos. E o custo de logística no Brasil já soma mais de 13% do PIB, contra 8% nos Estados Unidos, por exemplo.

“A questão é se para um investidor internacional olhando para oportunidades no setor de agro, comércio internacional ou na indústria em geral, se deveria investir no Brasil onde tem problemas agudos na infraestrutura ou em outro mercado com melhor qualidade dos ativos de transporte? Afinal, o Brasil é um país continental e a facilidade de deslocamento e transporte de bens é fundamental para uma operação sustentável e rentável. O maior risco está a médio prazo, se estes problemas não começarem a ser resolvidos agora.” – Adam Patterson.

INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA

De acordo com o relatório de competitividade global do Banco Mundial de 2019-2020, o Brasil aparece na 56ª posição no ranking entre 160 nações, no segmento de logística, atrás de países como México, Chile e África do Sul. Para Adam Patterson este é um dado preocupante, uma vez que a matriz ‘infraestrutura’ tem um forte impacto na atração de capital.

“A infraestrutura inadequada é uma das principais barreiras para o crescimento econômico do Brasil. A extensão da rede rodoviária, juntamente com a eficácia do sistema portuário e o tempo de espera dos contêineres, por exemplo, tem implicações diretas na entrega pontual e econômica de mercadorias”, ressaltou Patterson. “Por isso, o investimento em infraestrutura de qualidade é essencial para promover o crescimento sustentável, construir riqueza e melhorar o bem-estar da população.”

Segundo o economista, o problema é agravado pela dependência rodoviária que o Brasil tem para o escoamento da produção. “O Brasil não tem uma estrutura ferroviária suficientemente desenvolvida para atender ao grande volume da produção, tanto agrícola, quanto industrial. Além disso, o país não investiu o necessário nos últimos anos em interligação de modais de transporte e, por isso, cada vez que há uma interrupção na rodovia, a economia toda acaba sendo impactada.”