Adesão à tecnologia e melhoria de serviços completam pódio de pesquisa feita na comunidade nsclub; juntos, líderes respondentes gerenciam orçamento anual entre R$ 10 bilhões e R$ 80 bilhões em Supply Chain
Por Christian Presa
De acordo com a pesquisa, trade off entre redução de custo e melhoria de serviço foi de 41% (Foto: Shutterstock)
A redução de custos segue como prioridade na agenda dos gestores de logística no Brasil. Segundo pesquisa realizada na comunidade nsclub, 58% de executivas e executivos participantes apontaram ações para redução de custos como o desafio mais relevante de gestão. O pódio de prioridades foi completado pela implementação de tecnologia nos processos (57%) e a melhoria do nível de serviço (52%).
Outro percentual apontado pela pesquisa foi a importância do trade off entre redução de custo e melhoria de serviço: 4 em cada 10 respondentes da pesquisa consideraram essa relação como “muito relevante”.
Ao todo, o estudo realizado entre os membros do nsclub teve a participação de executivos de 59 empresas, entre embarcadores e prestadores de serviços logísticos. Juntas, essas empresas somam orçamento anual em Supply Chain entre R$ 10 bilhões e R$ 80 bilhões.
Top 3 de áreas prioritárias no 1º trimestre de 2023 (em %)
Fonte: nsclub
Segundo o head of Community da nstech e coordenador da pesquisa, Paulo Oliveira, esse foco em equilíbrio de custos pode ser justificado pelas mudanças nos modelos de abastecimento –– impactados pelo crescimento de canais B2C, bem como pela ampliação de base de clientes e de portfólio. Além disso, o executivo mencionou o aumento da competição entre players cada vez mais qualificados.
“Em um passado recente, o foco das otimizações de custo era ‘da porta para dentro’, para repensar processos e otimizar custos. Com essas mudanças, agora parece que o foco é ‘da porta para fora’. Ou seja, o objetivo é atender bem diferentes clientes, com diferentes produtos e serviços e mantendo rentabilidade”, ressaltou Oliveira.
Macrodesafios mais relevantes (em %)
Fonte: nsclub
Um dos respondentes da pesquisa foi o diretor de Operações da Dafiti, Alexandre Faria. Segundo ele, redução de custo e melhoria de serviço sempre foram prioridades, mas o momento do mercado contemporâneo reforçou a importância dessas pautas –– demandando visão estratégica dos gestores. “Fazer mais e melhor a cada dia sempre é foco dos gestores de logística, mas o momento demanda análises mais profundas do modelo de distribuição, passando por revisão de malha, modo de contratação, modais utilizados, oportunidades de colaboração e uso de tecnologias disponíveis”, disse o executivo.
Para Faria, esse cenário não deve mudar em segmentos como o da Dafiti, especialmente se considerada a relevância do custo de distribuição. “O efeito [da redução de custo] na rentabilidade das empresas é imediato e uma variação, positiva ou negativa, tende a implicar no resultado da companhia. A tendência, ainda, é que o cenário de distribuição se torne cada vez mais complexo, em um ambiente urbano sempre mais caótico em combinação com uma busca por flexibilidade para atender melhor o consumidor.”
Já a vice-presidente de Business Development da DHL Supply Chain no Brasil, Erica Peixoto, o foco em redução de custos deflagra o interesse das empresas em, por meio dessa estratégia, aumentarem a rentabilidade. “[Isso é feito] possivelmente como uma forma de enfrentar a concorrência e obter uma vantagem competitiva. Em segundo lugar, há um interesse em implementar tecnologia como um meio de melhorar a eficiência operacional e reduzir custos a longo prazo. E, em terceiro lugar, melhorar o serviço, possivelmente como uma forma de aumentar a fidelidade do cliente e assegurar a qualidade no serviço conforme comprometido.”
Além disso, a executiva salientou que esse continua sendo um assunto relevante para os embarcadores pelo fato de os custos logísticos, em geral representarem uma grande proporção do custo total de produção. “Os custos logísticos podem influenciar significativamente a rentabilidade da empresa. A redução de custos também pode permitir que as empresas ofereçam preços mais competitivos aos clientes.”
TECNOLOGIA É O CAMINHO
Na edição janeiro/fevereiro da MundoLogística, a reportagem de capa abordou a redução de custo de frete e trouxe a participação de Marcelo Arantes (CSCO da Leroy Merlin), que citou o trade off entre qualidade e custo. “Isso [o trade off] sempre existiu. E sim: em algum ponto, se você passar do limite de qualidade aceitável, você começa a prejudicar o nível de serviço.”
A mesma reportagem também trouxe as considerações de Marlos Tavares (CEO da GL2) e Marco Antonio Neves (diretor-presidente da Tigerlog), que ressaltaram a importância da visibilidade nesse processo. Enquanto Tavares destacou o uso da torre de controle como a certeza de que o custo não vai ser desviado, Neves enfatizou que “quanto maior for a visibilidade do processo, mais rápido é possível detectar uma anomalia a ser resolvida”.
A mesma lógica foi identificada no estudo feito com membros do nsclub e, a partir das respostas obtidas na pesquisa, quase foi possível estabelecer uma equação. Na visão, a implementação de tecnologia é uma saída para reconhecer gargalos, reduzir custos e, por fim, melhorar o nível de serviço.
“São ações que andam juntas. Cada vez mais empresas entendem tecnologia como meio para melhorar serviços e otimizar os custos de servir”, disse Paulo Oliveira. “As soluções de tecnologia são buscadas para um dado problema ou oportunidade. Por isso, é importante que os gestores estejam atentos ao que o mercado oferece, permitindo um processo de escolha mais assertivo e cirúrgico para as necessidades da empresa.”
Alexandre Faria, da Dafiti, também reforçou essa relação. “A implementação de tecnologia aparece como um meio de viabilizar as outras duas prioridades. Sem ela, dificilmente os outros dois objetivos serão atingidos.”
Citando a adesão a TMS e WMS, Erica Peixoto, da DHL, pontuou que a implementação de tecnologia deve ser vista como uma forma de atender às prioridades de melhorar a eficiência operacional e aumentar a qualidade do serviço. Mas deve-se, também, olhar para além da tecnologia. “É importante que os gestores busquem melhorias na gestão da cadeia de suprimentos, incluindo a redução de estoques, aprimoramento da gestão de demanda e a utilização de transportes mais eficientes.”
BUSCA POR TALENTOS EM REMISSÃO
Em abril deste ano, a Market Director da consultoria Robert Half, Carolina Cabral, falou com exclusividade para a coluna “Start da Semana”, da MundoLogística, sobre o mercado de trabalho para o setor de logística. Na entrevista, a executiva ressaltou que cerca de 76% dos recrutadores mostraram dificuldade em contratar profissionais de logística. Os dados são do Guia Salarial de 2023, realizado pela Robert Half.
No entanto, essa dificuldade parece não se refletir em unanimidade entre os respondentes do nsclub que participaram da pesquisa. Conforme os resultados obtidos, apenas 17% dos executivos que responderam ao questionário consideraram a escassez de mão de obra como um desafio muito relevante –– apesar de o dobro (34%) considerar a capacitação como um fator muito relevante.
Além disso, somente 28% incluíram a atração e retenção de talentos no Top 3 de prioridades. Segundo Paulo Oliveira, esses insights levam à dedução de que os gestores têm feito, em geral, um bom trabalho de retenção e desenvolvimento dos times.
O head of Community da nstech também pontuou sobre o interesse dos gestores em profissionais adeptos ao “life long learning” –– ou seja, o aprendizado contínuo. “Vejo uma expectativa dos executivos frente a seus times para que tragam mais inovação e melhorias. A capacitação tem destaque, mas talvez com uma expectativa de autodesenvolvimento. Fica aqui uma dica importante a todos que estão fazendo carreira na logística: mantenha-se atualizados para se manterem relevantes.”
ESG (NÃO TÃO) EM FOCO?
A pesquisa realizada entre os membros do nsclub também considerou um tema recorrente no setor de logística: a descarbonização. Porém, apesar de toda a atenção na agenda ESG, apenas 26% dos líderes que responderam à pesquisa consideraram a descarbonização como um desafio muito relevante e somente 6% incluíram o tema no Top 3 de prioridades.
“Esse foi um resultado não esperado”, declarou Paulo Oliveira. Apesar disso, ele enxerga que há ganhos possíveis para reduzir emissões de carbono em outras ações. “Entendo que foco em ações de otimização de custo de servir e implementação de tecnologia, que são prioridades declaradas, terão impactos positivos na descarbonização.”