A imposição de limites de velocidade na Alemanha: o que se sabe até o momento?

Agência Federal do Meio Ambiente da Alemanha argumenta que, além de contribuir para o clima e meio ambiente, os limites de velocidade reduzem a poluição sonora e aumentam a segurança nas rodovias do país

Por Redação

Um dos aspectos positivos diz respeito à redução de acidentes e o consequente aumento da segurança para os motoristas (Shutterstock)

A imposição de limites de velocidade no trânsito é uma pauta que gera debates acirrados ao redor do mundo e não apenas no Brasil.

No entanto, com mais ou menos restrições, boa parte das grandes economias globais conta com regras de velocidade máxima e os cenários possuem certa uniformidade: na China, por exemplo, os limites giram em torno de 30 km/h a 60 km/h em áreas urbanas até 120 km/h em autoestradas; contexto semelhante ao britânico (30km/h na cidade; 113 km/h, nas autoestradas).

Para citar um exemplo nacional, em São Paulo, após quase 15 anos de uma política mais rígida sobre os limites de velocidade na capital paulista, alguns ganhos evidentes se somaram ao desafiador cenário do trânsito na cidade.

Um dos aspectos positivos diz respeito à redução de acidentes e o consequente aumento da segurança para os motoristas. Em termos comparativos, o total de mortos nas vias urbanas de São Paulo (com limite médio de 50 km/h) caiu de 1357 em 2010 para 765 em 2020 (queda de mais de 43%). Em contrapartida, muitos motoristas se queixam do excesso de multas e fiscalização, mesmo em vias com trânsito mais fluido.

Esse tema começa a ganhar espaço no debate público em um dos países mais flexíveis em relação aos limites de velocidade no trânsito: a Alemanha. Em seu sistema de autoestradas federais (popularmente conhecido como Autobahn), embora haja uma recomendação dos órgãos públicos de velocidade máxima de 130 km/h, na prática, apenas 30% dos trechos contam, de fato, com alguma exigência nesse sentido.

LIMITES DE VELOCIDADE: O QUE ESTÁ EM DISCUSSÃO NA ALEMANHA?

A partir de uma análise recente sobre a pauta dos limites de velocidade nas autobahn, é possível dividir a discussão em ao menos três frentes principais:

• O combate aos comportamentos de risco: conhecidas pela liberdade oferecida aos motoristas, as autoestradas alemãs acabaram por se tornar uma espécie de ponto turístico para condutores que desejam "pisar no acelerador", fato esse que rendeu críticas recentes do atual ministério de transportes alemão, que, em comunicado divulgado pelo UOL, apontou que "rejeita qualquer comportamento no tráfego rodoviário que leve ou possa colocar em risco outros usuários da estrada”.
   
• A busca da Alemanha pela redução da emissão de gases de efeito estufa: até 2045, a Alemanha pretende ser neutra na emissão de gases de efeito estufa, e os limites de velocidade nas autoestradas podem contribuir diretamente com o objetivo. Um estudo divulgado pela Carbon Brief apontou que, independentemente do volume de tráfego, menores velocidades reduzirão em pelo menos 5% das emissões diretas nas autoestradas;
   
• Uma mudança na mentalidade da sociedade alemã: na mesma reportagem, é citada uma pesquisa da Universidade Linnaeus, a qual indicou que, atualmente, cerca de 63% da população alemã é a favor de limites de velocidade nas autobahns.

UMA QUESTÃO AMBIENTAL E DE SEGURANÇA

Defensores da imposição de limites de velocidade nas autoestradas alemãs se baseiam, justamente, nessas frentes para a defesa dessa pauta – que ainda encontra resistência, especialmente, entre os clubes de automobilistas alemães (que argumentam por limites apenas para os trechos mais perigosos).

Na linha de defesa, a análise da Carbon Brief também indicou que, reduzir os limites para 130 km/h nas autobahns pode gerar uma economia de € 951 milhões relacionados a um ganho global de bem-estar e de quase € 300 milhões em emissões de CO2 evitadas.

Dentro desse contexto, a Agência Federal do Meio Ambiente da Alemanha argumenta que, além de contribuir para o clima e meio ambiente, os limites de velocidade reduzem a poluição sonora e aumentam a segurança nas rodovias do país.

O próprio governo alemão, no entanto, embora seja crítico de comportamentos de maior risco, oficialmente, ainda não pretende impor limites nas autobahns, segundo publicação da Agência Deutschland – ficando a defesa de um maior controle a cargo de comissões como a “Plataforma Nacional do Futuro da Mobilidade”, partidos de oposição de viés mais ambientalista e publicações especializadas como o Jornal da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (International Society for Ecological Economics). (ISEE)

UM DEBATE QUE AGUARDA NOVOS CAPÍTULOS

Como vimos, um dos fatores que pode dar uma nova direção para esse debate está relacionado com uma concordância, cada vez maior, da população alemã acerca dos limites de velocidade nas autobahns. Essa é uma pauta que aguarda novos capítulos, mas que pode avançar dentro de uma sociedade global cada vez mais preocupada com questões ambientais, emissão de poluentes e segurança no trânsito. E você, o que pensa sobre o assunto?

ESTRADAS DO FUTURO

Enfrentar o desafio dos acidentes em estradas e rodovias do Brasil não é uma questão simples e, ao mesmo tempo, trata-se de uma demanda que pede urgência. De acordo com dados da CNT (Confederação Nacional de Trânsito), só em 2022, mais de 64 mil acidentes foram registrados no país — desses, 82,1% deixou vítimas, incluindo mortos e feridos. Em termos gerais, o Brasil ocupa a preocupante posição de 3º país com o maior número de mortes no trânsito, conforme relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde). 

A MundoLogística lançou a campanha “Estradas do Futuro”, uma iniciativa que conta com patrocínio da nstech e da Quartzolit, apoio da Onisys, da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e da Associação Brasileira de Logística (Abralog). Por meio da campanha, o intuito é unir os diferentes atores da cadeia logística nacional, difundindo conteúdos educacionais que tragam tanto visibilidade para a pauta da segurança no transporte rodoviário, quanto práticas e divulgação de soluções que possam colaborar com a capacitação e proteção de motoristas.