Comprehensive Logistics Network: O olhar 360° sobre a malha logística

Por meio do estudo de malha, as empresas podem otimizar a localização de CDs, roteirização de transportes e aproveitamento de créditos fiscais, tudo isso mantendo serviço de qualidade

Publicado em 16/10/2024 por Marcelo Paciolo*
Imagem ilustrativa (Foto: Freepik)

A malha logística pode ser definida como a infraestrutura, processos e sistemas que viabilizam a movimentação eficiente de bens e serviços de um ponto de origem até o destino final. Trata-se de um componente disponível para qualquer empresa que deseje otimizar seus processos de distribuição e atender às demandas do mercado de maneira ágil e econômica.

No Brasil, a relevância do planejamento de uma malha logística eficaz é ainda mais acentuada devido às suas dimensões continentais, infraestrutura diversificada e desafios regionais. Além disso, o país enfrenta um cenário tributário complexo, sujeito a reformas, o que impacta diretamente as operações logísticas das empresas. As altas cargas de custos logísticos, somadas à necessidade de cumprir as exigências fiscais e regulatórias, fazem com que um planejamento detalhado seja imperativo para garantir a competitividade do negócio.

O estudo tem no cerne um objetivo maior: rentabilizar o negócio. Esse objetivo é alcançado quando é encontrado o ponto ótimo de operação, onde a empresa consegue maximizar suas operações e minimizar custos. Isso envolve não apenas o cálculo preciso dos custos logísticos, mas também a exploração de ganhos tributários e a manutenção da eficiência operacional (SLA’s).

Por meio do estudo de malha, as empresas podem otimizar a localização de seus centros de distribuição, roteirização de transportes e aproveitamento de créditos fiscais, tudo isso mantendo um serviço de alta qualidade.

É muito comum que a realização de um estudo de malha logística seja conduzida sob diferentes óticas, dependendo do objetivo da empresa e das suas prioridades operacionais e financeiras. Cada abordagem possui suas particularidades, que podem resultar em soluções muito distintas para a otimização do negócio.

ÓTICA TRIBUTÁRIA

Um dos focos mais comuns em estudos de malha logística no Brasil é a otimização tributária. Devido à complexidade do sistema tributário brasileiro, empresas costumam focar em estratégias que maximizem o uso de créditos fiscais e minimizem a carga de impostos, o que é especialmente relevante no caso de operações de grande porte que atravessam múltiplos estados.

As legislações sobre ICMS, IPI, PIS, COFINS e ISS variam significativamente entre estados e municípios, gerando oportunidades para reduzir o impacto tributário por meio da escolha estratégica da localização de centros de distribuição (CDs), fábricas e outras operações. No entanto, a limitação de muitos estudos tributários é que eles costumam ser feitos com base, literalmente, nos cabeçalhos das notas fiscais, ou seja, levando em consideração apenas os valores totais, e não os detalhes item a item (SKU).

Esse tipo de análise, apesar de ser mais rápida e menos detalhada, pode deixar de capturar nuances importantes que afetam diretamente a eficiência tributária. A escolha entre diferentes fornecedores, por exemplo, ou a variação de alíquotas aplicadas a itens específicos são fatores que podem influenciar a lucratividade da operação e a recuperação de créditos fiscais.

Além disso, um estudo tributário que olhe apenas o “macro” — ou seja, focado exclusivamente na recuperação de créditos e na redução de impostos sem considerar as operações logísticas — pode gerar economias no curto prazo, mas eventualmente resultará em ineficiências operacionais que impactam negativamente os custos de transporte, armazenamento e atendimento ao cliente.

ÓTICA DE CUSTOS

Outra vertente de estudos de malha foca especificamente na redução de custos logísticos, como transporte, armazenagem e mão de obra. Nessa abordagem, o objetivo é encontrar o ponto de equilíbrio onde a empresa consiga reduzir seus custos diretos sem comprometer o nível de serviço (SLA) ao cliente.

A análise de custos envolve uma série de variáveis, como o custo por quilômetro rodado, a eficiência de roteirização e a escolha entre armazenagem própria, terceirizada ou híbrida. Outro fator crítico é a análise do custo total de transporte, considerando diferentes modais (rodoviário, ferroviário, aéreo ou marítimo) e as particularidades de cada região do Brasil.

No entanto, essa abordagem, quando conduzida de forma isolada, pode deixar de aproveitar oportunidades fiscais relevantes. Focar apenas na redução de custos diretos, sem levar em consideração as implicações tributárias, pode resultar em uma solução que, no final, não maximiza os ganhos possíveis. Por exemplo, ao buscar otimizar o custo de transporte, a escolha por um CD localizado em uma zona com tributação desfavorável pode anular os ganhos obtidos com a eficiência logística.

ÓTICA COMBINADA

A abordagem mais eficaz para um estudo de malha é a que combina as óticas de custos e tributária, integrando os aspectos fiscais com os operacionais. Um estudo realmente eficiente precisa considerar, de maneira equilibrada, tanto as variáveis tributárias quanto os custos logísticos, de modo que a operação atinja o ponto ideal de rentabilidade.

Essa ótica combinada, porém, precisa superar a superficialidade de muitos estudos tributários que consideram apenas o cabeçalho das notas fiscais. Para maximizar os ganhos, o estudo tributário precisa ser feito item a item (SKU), analisando as particularidades de cada produto em cada estado.

Além disso, os custos operacionais devem ser detalhados com precisão, levando em conta fatores como a localização de CDs, os custos modais e as zonas de atendimento, de forma a garantir uma operação eficiente e vantajosa fiscalmente.

O ESTUDO DE MALHA 360°

O conceito de um estudo de malha 360° vai além da simples análise tributária ou de custos logísticos. Ele envolve uma abordagem holística, onde todas as variáveis operacionais, tributárias e financeiras são consideradas em conjunto. Essa abordagem visa não apenas maximizar a eficiência fiscal e a redução de custos, mas também garantir que os níveis de serviço (SLA) sejam mantidos ou melhorados.

TRIBUTÁRIO COMO “BATIDA DO BUMBO”

No Brasil, o elemento que geralmente orienta e “bate o bumbo” em um estudo de malha 360 graus é o componente tributário, dado o peso significativo dos impostos nas operações logísticas. No entanto, diferente de abordagens simplistas que analisam apenas o cabeçalho da nota fiscal, um estudo 360° exige uma análise tributária detalhada, item a item (SKU). Isso porque, em muitos casos, diferentes produtos podem estar sujeitos a diferentes regimes tributários, o que afeta tanto a recuperação de créditos quanto o impacto no custo final.

Para realizar essa análise, é necessário mapear todas as variáveis fiscais aplicáveis a cada estado em que a empresa opera, considerando alíquotas de ICMS, IPI, PIS, COFINS e ISS. Além disso, deve-se incluir no estudo o equilíbrio entre a geração de créditos fiscais e o respectivo consumo desses créditos, o que pode influenciar a escolha dos locais de armazenagem e o roteamento das mercadorias.

CUSTOS OPERACIONAIS DETALHADOS

Outro pilar do estudo de malha 360 graus é a análise minuciosa dos custos operacionais, que deve abranger tanto as modalidades de armazenagem (própria, terceirizada ou híbrida) quanto os custos de transporte (próprio ou terceirizado). Um estudo detalhado permite que a empresa identifique oportunidades de redução de custos que podem ser implementadas sem comprometer a qualidade do serviço ao cliente.

O impacto no SLA de atendimento também deve ser rigorosamente considerado, uma vez que qualquer alteração na localização dos CDs ou nos roteiros de transporte pode impactar o tempo de entrega e, consequentemente, a satisfação do cliente. Empresas que atendem a áreas geográficas amplas precisam ponderar cuidadosamente os trade-offs entre custos operacionais e prazos de entrega.

SIMULAÇÃO DE “N” CENÁRIOS

A verdadeira riqueza de um estudo de malha 360 graus está na simulação de múltiplos cenários, que permitem à empresa testar diferentes combinações de variáveis e encontrar a solução mais adequada para suas necessidades. Cada cenário deve ser uma representação realista das condições operacionais, e suas premissas precisam ser factíveis para implantação no curto e longo prazo.

Esses cenários devem incluir variações nas localizações de CDs, modais de transporte, regimes tributários, níveis de serviço e outras variáveis críticas. Para executar essas simulações de forma eficaz, é indispensável contar com sistemas "parrudos", ou seja, ferramentas tecnológicas robustas e de alto desempenho. Esses sistemas precisam ser capazes de processar grandes volumes de dados, cruzar inúmeras variáveis e gerar resultados com rapidez e precisão.

Softwares avançados de modelagem e simulação, com capacidades de integração tributária e operacionais, são essenciais para garantir que os cenários não só reflitam as complexidades reais da operação, mas também que as soluções propostas possam ser testadas em diversas situações, garantindo aderência ao planejamento estratégico da empresa. Esses sistemas devem permitir ajustes dinâmicos e gerar insights detalhados, ajudando a empresa a tomar decisões embasadas, minimizando riscos e maximizando a eficiência operacional e fiscal.

A empresa pode, então, comparar os resultados de cada cenário, considerando tanto o impacto financeiro quanto a viabilidade prática, para tomar decisões informadas que otimizem sua operação de ponta a ponta.

A necessidade de revisitar periodicamente o planejamento de malha logística é igualmente importante, considerando a volatilidade das “regras do jogo”. O Brasil é um país com frequentes mudanças nas legislações tributárias, alterações nas políticas de transporte e infraestrutura, além de incertezas econômicas. Essas variáveis podem impactar diretamente o planejamento de malha logística das empresas, exigindo ajustes rápidos e eficazes na operação.

Portanto, a revisão contínua do planejamento logístico garante que a empresa se mantenha adaptável e possa reagir de maneira rápida às novas condições de mercado, evitando perdas de eficiência ou aumento desnecessário de custos.


*Marcelo Paciolo é head de Supply Chain e Logística da AGR Consultores.

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