Dragagem emergencial não substitui soluções de longo prazo

Publicado em 19/09/2024 por Silvia Migueles *

Dragagem emergencial não substitui soluções de longo prazo
Rio Grande do Sul (Foto: Divulgação)

Principal via fluvial de navegação gaúcha — que teve sua situação ainda mais agravada após as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul no mês de maio —, a Lagoa dos Patos tem sido motivo de grande preocupação para a cadeia produtiva do RS. Com relevantes alterações no calado e até a criação de bancos de areia, a situação da hidrovia que historicamente escoa todos os dias uma fatia significativa das riquezas produzidas no estado chegou a tal ponto que, a fim de manter as condições mínimas de navegabilidade no acesso ao Polo Petroquímico de Triunfo, uma dragagem emergencial no Canal do Furado Grande, no Rio Jacuí, foi recentemente articulada. 

O que era urgente, tornou-se inadiável. Somente nos últimos meses, algumas embarcações pararam de circular no local ou navegaram transportando uma carga mínima, provocando prejuízos e atraso nas entregas de produtos essenciais. Uma embarcação de grande porte responsável pelo transporte de produtos de natureza gasosa chegou a encalhar no trecho e só conseguiu ser liberada com o apoio de rebocadores. 

O incidente não foi isolado. Pelo menos outros trechos utilizados por diversas empresas — Pedras Brancas, Feitoria e Canal do Leitão — também se encontram hoje em situação crítica. É por lá que circulam diariamente produtos como fertilizantes para o agronegócio, matérias-primas que abastecem as indústrias, e o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o gás de cozinha, por exemplo. 

A preocupação com o assoreamento das bacias hidrográficas gaúchas não é de hoje. Dragagens não são realizadas na hidrovia há cerca de 30 anos. E o cenário que foi diretamente impactado pelos eventos climáticos recentes pode se agravar ainda mais nos próximos meses com a redução de chuvas no verão gaúcho, a expectativa de estiagem e consequente baixa das águas. 

Mais do que nunca, a realização de uma batimetria completa e a execução de um plano robusto de longo prazo são itens imprescindíveis que devem ser priorizados por todos os agentes de desenvolvimento competentes. Viabilizada com recursos privados, a dragagem em curso é, além de emergencial, pontual. A obra busca remediar, apenas no curto prazo, um problema crônico e que, se não for ampliado e tratado com a devida celeridade, irá manter em cheque a produtividade de empresas e milhares de empregos, gerando insegurança para toda uma cadeia produtiva que se conecta com o estado, o país e o mundo. 


* Silvia Migueles é diretora de Logística na Braskem. 

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