O que você não vê: A importância da logística que salva vidas nos bastidores das cirurgias

Cada cirurgia envolve uma complexa cadeia de processos que exige precisão e comprometimento de todos os profissionais, incluindo os operadores logísticos

Publicado em 21/10/2024 por Michel Goya*
Imagem ilustrativa (Foto: Freepik)

Quando falamos sobre uma cirurgia, a primeira imagem que vem à mente é o ato em si, dentro de um centro cirúrgico. No entanto, há uma série de empresas, processos e pessoas envolvidas muito antes de o paciente entrar no hospital. Em uma cirurgia oncológica, por exemplo, o início pode ser tão sutil quanto uma dor de cabeça, um desmaio ou tontura sem explicação.

Esses sintomas levam o paciente a procurar um médico, que dará início a uma investigação detalhada. Após um diagnóstico de doença oncológica, o tratamento pode seguir por dois caminhos: cirúrgico ou não cirúrgico, como a quimioterapia ou radioterapia.

Se a cirurgia for necessária, o médico elabora uma lista com todos os materiais especiais que serão utilizados e a envia ao hospital. Aqui, começa uma jornada incrível que é uma das etapas mais delicadas de todo o processo: a aquisição e logística dos materiais cirúrgicos. A forma como isso acontece, porém, varia muito entre os setores público e privado.

Hoje, no Brasil, ocorrem cerca de 15 a 20 mil cirurgias por dia, incluindo eletivas, urgência e emergência. No setor privado, que atende cerca de 25% da população e concentra 60% dos gastos em saúde, o paciente tem mais opções, informações e escolhas. Já no setor público, que atende 75% da população, a alta demanda sobrecarrega o sistema, resultando em longas filas de espera. Muitas vezes, esse atraso pode comprometer a vida de quem aguarda por uma autorização.

Na saúde suplementar, o hospital recebe o pedido de cirurgia, realiza cotações com os fornecedores dos materiais e envia para aprovação do plano de saúde do paciente. Quando a autorização é liberada, a cirurgia é agendada e o hospital solicita a entrega dos materiais.

É neste ponto que entra a logística dos materiais hospitalares, conhecidos como OPMEs (Órteses, Próteses e Materiais Especiais). Quando uma cirurgia é de urgência, cada minuto conta. O hospital sinaliza essa prioridade ao fornecedor, e o processo de separação e envio dos materiais deve ser imediato. O tempo entre a solicitação e a entrega no hospital pode ser de até 40 minutos, dependendo da localização. Esse tipo de operação mobiliza uma equipe especializada, que deve estar atenta e preparada para agir rapidamente.

Em situações de emergências, em poucos minutos os materiais já estão prontos para expedição, acompanhados de toda a documentação necessária. A localização dos centros de distribuição é fundamental para que o tempo de resposta seja o menor possível, atingindo dezenas de hospitais em um raio de apenas 10 km.

As cirurgias eletivas, embora não emergenciais, seguem o mesmo rigor e segurança nas etapas de preparação e entrega. A logística precisa ser eficiente, pois o volume de cirurgias é elevado. Em grandes centros, a capacidade de atender a múltiplas cirurgias diárias é essencial para manter o ritmo dos procedimentos. No setor privado, as cirurgias programadas também contam com um processo de entrega bem definido, com conferências feitas diretamente com a equipe hospitalar para garantir que todo o material necessário esteja à disposição.

Após a cirurgia, a logística não termina. A equipe retorna ao hospital para retirar os itens que foram ou não utilizados, como instrumentais, implantes e equipamentos, que passarão por diversas etapas de conferência. É a chamada logística reversa, que garante que tudo seja contabilizado corretamente e que os materiais estejam prontos para os próximos procedimentos.

A eficiência no processo de logística cirúrgica é fundamental para garantir que os pacientes recebam os produtos com qualidade, dentro dos prazos corretos e com a máxima segurança. O papel da equipe de logística vai muito além da simples entrega de materiais. Estamos lidando com vidas, e cada etapa do processo é crítica para o sucesso de uma cirurgia e para o bem-estar do paciente.

Cada cirurgia envolve uma complexa cadeia de processos que exige precisão e comprometimento de todos os profissionais. A integração entre hospitais, fornecedores e operadores logísticos é fundamental para garantir a excelência no atendimento. No final das contas, o que está em jogo não são apenas materiais hospitalares, mas a saúde e a vida de pessoas que dependem de um sistema robusto, seguro e eficiente para sua recuperação.


*Michel Goya é CEO da OPME Log.

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