Malha rodoviária: Um raio-x entre Brasil e a Europa por empresários do setor de transporte

Publicado em 28/02/2024

Executivos entendem a eficiência e segurança com maiores investimentos no trânsito; investimento em infraestrutura projetado para 2024 ficará em 1,87% do PIB

Por Redação

Malha rodoviária: Um raio-x entre Brasil e a Europa por empresários do setor de transporte
Malha rodoviária: Brasil x Europa (Foto: Canva)

As condições das estradas e das rodovias no Brasil são objeto de constante debate, especialmente à luz dos resultados recentes das pesquisas anuais conduzidas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). Os dados de 2023 revelaram que 65,7% das malhas rodoviárias encontram-se em estado crítico.

A avaliação realizada pela CNT abrange diversos critérios, incluindo pavimentação, sinalização, acostamento, pontes, dentre outros aspectos fundamentais frequentemente utilizados por milhões de motoristas diariamente.

Esse cenário preocupa o setor de transporte rodoviário, responsável por movimentar 65% das cargas e por atender a 95% dos passageiros no país. Conforme indicado pela pesquisa, os custos operacionais do transporte rodoviário de cargas apresentaram um aumento significativo de 32,7% em 2023 em virtude da precária conservação das rodovias.

Para a diretora administrativa da Zorzin Logística, Gislaine Zorzin, é necessário ter novos olhares para os investimentos em infraestrutura para auxiliar as empresas de transporte continuarem entregando seus serviços.

“Temos bastante dificuldade com as malhas rodoviárias, o que causa um impacto direto no andamento das operações. No último ano, nossa manutenção de frota foi constante, visto que as estradas contêm muitas arestas, buracos e afins. Precisamos de um olhar mais clínico e responsável para que esse setor continue evoluindo”, disse.

Ao longo da última década, o Brasil destinou, em média, menos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) anual para investimentos em infraestrutura, totalizando menos de R$ 200 bilhões por ano. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que seria necessário, no mínimo, dobrar esse montante de investimento ao longo de duas décadas para preservar a infraestrutura existente e superar os desafios atuais.

Diante desse quadro, a executiva compara a infraestrutura brasileira e a europeia, destaca que na Europa há notável foco e investimento em segurança rodoviária, proporcionando uma experiência mais segura aos motoristas, aspecto que merece atenção no Brasil.

“A manutenção constante é uma característica marcante nas estradas europeias, em contraste com as rodovias brasileiras, que frequentemente apresentam remendos e deficiências na sinalização, elementos cruciais na prevenção de acidentes”, afirmou a executiva.

Conforme notícia divulgada recentemente pela MundoLogística, em 2024, os investimentos em infraestrutura no Brasil deverão ser de R$ 215,83 bilhões em 2024, o que significa um aumento de 11% comparado com os R$ 185,48 bilhões de 2023, segundo projeção da consultoria Inter.B, divulgada na 23ª Carta de Infraestrutura. Entretanto, no total, o investimento em infraestrutura projetado ficará em 1,87% do PIB — ante 1,79% em 2023 — ou seja, abaixo dos 2%.

De acordo com análise divulgada pela Exame, com base nos dados apresentados pela consultoria, a infraestrutura brasileira precisaria de mais de R$ 200 bilhões em investimentos além dos previstos todos os anos para atingir um ponto de modernização e universalização para atender toda a população.

SINALIZAÇÃO E SEGURANÇA

Outro ponto observado com bastante frequência por aqueles que trafegam pelas rodovias europeias é a eficácia da comunicação aliada à preocupação das autoridades locais em alertar os usuários sobre questões como acidentes, obras na pavimentação e outras medidas de conservação.

Marcel Zorzin, diretor operacional da Zorzin Logística, relata que, em uma experiência recente dirigindo pela Europa, observou que a comunicação por lá é extremamente eficiente na sinalização.

“Fazendo um paralelo com a comunicação do Brasil, percebe-se que aqui a sinalização ou é pouco eficiente, ou, quando existe, é insuficiente. Na Europa, ao me deparar com uma obra na pista que exigia um desvio, fui avisado com antecedência de quase 2 km, com orientações claras sobre a redução de velocidade e a faixa em que deveria trafegar. Isso faz uma enorme diferença”, destacou o executivo.

Segundo Marcel, quanto à segurança, é inegável que o território brasileiro está atrás de muitos países nesse quesito. Em 2022, o número de óbitos em acidentes de trânsito no Brasil chegou a 31.174 registros. Apesar de uma aparente melhoria em comparação com os anos anteriores, o Brasil, com uma população de 203 milhões de habitantes, ocupa o desconfortável terceiro lugar no ranking de países em decorrência de acidentes de trânsito segundo o relatório Status Report on Road Safety da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nas primeiras posições estão a Índia (com 1,428 bilhão de habitantes) e a China (com 1,425 bilhão de habitantes), respectivamente.

Os empresários do setor entendem que a demanda de tráfego nas estradas brasileiras é significativamente mais intensa do que em outros países. Por outro lado, mesmo assim é crucial uma resposta mais eficaz das lideranças governamentais para contribuir ainda mais nessas questões.

“Eu percorro frequentemente o Rodoanel, que é essencial para o transporte rodoviário de cargas, e percebo que é necessária uma melhoria na comunicação e na informação dentro dele para sinalização de acidentes, entradas e saídas da rodovia, dentre outros pontos. Isso com certeza contribuirá para uma mudança de comportamento dos motoristas”, disse o executivo.