O que explica o crescente desemprego de profissionais recém-formados em logística?

Publicado em 17/10/2024 por Diogo Inoue*

Muitas empresas têm enfrentado esse dilema: uma demanda por experiência que cria barreiras de entrada para muitos profissionais que estão se formando agora

O que explica o crescente desemprego de profissionais recém-formados em logística?
Imagem ilustrativa (Foto: Freepik)

Parece um paradoxo: temos um mercado crescendo e sedento por profissionais e, ao mesmo tempo, 18,9% dos recém-formados em logística sem conseguir emprego. Esse dado, extraído de uma pesquisa recente do Instituto Semesp, é preocupante e reflete o que venho observando na minha experiência no setor.

Nos últimos anos, especialmente entre 2023 e 2024, tenho notado uma mudança clara nas expectativas das empresas em relação à contratação de novos profissionais. Antes da pandemia, vivíamos um crescimento relativamente estável, com o e-commerce ganhando espaço aos poucos. Mas, com o boom do e-commerce no período, a logística virou o centro das atenções, e as contratações explodiram para acompanhar esse crescimento absurdo. Vi muitas empresas crescerem 40% ou até 50% ano contra ano, em um cenário que parecia não ter fim.

Mas esse crescimento desenfreado não durou para sempre: após o pico da pandemia, a realidade bateu à porta. As empresas começaram a desacelerar, ajustando-se a uma nova fase, onde o foco deixou de ser o crescimento rápido e passou a ser a eficiência operacional. Isso impactou diretamente as contratações, que agora priorizam profissionais mais experientes, capazes de tomar decisões rápidas e certeiras em um ambiente cada vez mais dinâmico. É por isso que tantos recém-formados estão com dificuldades de entrar no mercado.

É preciso entender que, em logística — e principalmente em logística reversa —, não estamos apenas lidando com o transporte de produtos. Trata-se de uma operação extremamente complexa, envolvendo armazéns, estradas e consumidores cada vez mais exigentes, especialmente quando falamos de e-commerce.

Então, como se resolve esse paradoxo? Como confiar tarefas tão cruciais a profissionais que ainda não têm a experiência necessária para lidar com problemas em tempo real?

Muitas empresas têm enfrentado esse dilema: precisamos de profissionais que saibam resolver problemas rapidamente, e essa demanda por experiência cria uma barreira de entrada para muitos que estão se formando agora. Eu vejo, no entanto, que o caminho está em formar melhor esses jovens, com o conhecimento técnico e com a vivência prática do dia a dia.

Por isso, acredito que precisa ser discutida a estrutura dos cursos de Logística no Brasil. Em muitos casos, o conteúdo está desatualizado e desconectado das realidades do mercado. Tenho percebido que soluções mais imersivas, com cursos curtos e focados em prática, estão ganhando força, principalmente no último ano. Esses cursos são oferecidos por profissionais que vivem o mercado todos os dias, participam diretamente da transformação pela qual ele está passando — seja no digital, no físico, ou no “phygital”, que é esse mundo físico, digital, que está o tempo inteiro aí convergindo no nosso dia a dia. Isso proporciona aos alunos uma visão muito mais próxima da realidade que eles enfrentarão. No fim das contas, esse tipo de formação é fundamental para prepará-los para os desafios que virão.

Em suma, o mercado de trabalho em logística está passando por um ajuste. Sim, estamos buscando eficiência, mas acredito que, com o tempo, o mercado também vai abrir espaço para profissionais menos experientes, à medida que a economia se estabilize e as empresas voltem a crescer de forma mais sustentável.

Até lá, quem está entrando agora precisa buscar formações que lhes deem não só o conhecimento, mas a capacidade de se adaptar e resolver problemas. E isso, no nosso setor, é o que realmente faz a diferença.


*Diogo Inoue é vice-presidente executivo da Conecta Cargo, empresa brasileira especializada em logística reversa de produtos pesados.

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