Friendshoring: sustentabilidade e um novo papel para o Brasil nas cadeias globais de suprimentos

Friendshoring: sustentabilidade e um novo papel para o Brasil nas cadeias globais de suprimentos

Publicado em 18/04/2023

Buscas por reshoring e onshoring aumentaram, ao mesmo tempo em que alternativas próximas de fornecimento – nearshoring – também passaram a ser buscadas para uma minimização dos riscos de abastecimento

Por Leonardo de Assis *

Friendshoring: sustentabilidade e um novo papel para o Brasil nas cadeias globais de suprimentos
Questões relacionadas a sustentabilidade vem sendo cada vez mais demandadas e cobradas pela sociedade (Foto: Divulgação)

A Guerra entre Rússia e Ucrânia ainda causa grande instabilidade em diversas cadeias de suprimentos relevantes em todo mundo. Tais disrupções, aliadas à elevação das hostilidades na Guerra Comercial entre EUA e China, vem fortalecendo a visão dos países ocidentais desenvolvidos sobre a necessidade de redução de dependência do Oriente para produção de bens industrializados. Tal fato, pode influenciar diretamente nos rumos e no posicionamento do Brasil no comércio internacional.

Desde o início da pandemia de Covid-19 e seu impacto sobre as cadeias de suprimentos, os países ocidentais desenvolvidos, especialmente o G7, vem discutindo alternativas para elevação da resiliência em seus ambientes de negócios.

A busca por alternativas como o reshoring e onshoring – de retomar e privilegiar a produção no próprio país – se fortaleceram, ao mesmo tempo que alternativas mais próximas de fornecimento – nearshoring – também passaram a ser buscadas para uma minimização dos riscos de abastecimento. Tal fato pode ser corroborado pela recente decisão da Tesla de expandir sua produção de carros elétricos via México frente a alternativas mais baratas e preparadas ao redor do mundo.

Aliado a esse processo, questões relacionadas a sustentabilidade, incorporação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e práticas ESG por parte das empresas e nas relações comerciais vem sendo cada vez mais demandadas e cobradas pela sociedade, sendo um ativo social e político importante.

Assim, o friendshoring – ou o estabelecimento de relações de fornecimento com países que compartilham dos mesmos valores e interesses – vem sendo mais discutidos. Tal fato fica patente nas discussões sobre os investimentos propostos pelos EUA na cadeia de suprimentos de semicondutores do Brasil, bem como a recente discussão sobre os equipamentos militares brasileiros que foram embargados pela Alemanha por conta de nossa posição de neutralidade na Guerra da Ucrânia.

Essa é uma discussão que é de grande interesse para nós e abre grandes oportunidades para um novo papel do Brasil nas cadeias globais de suprimentos. O Brasil é um país grande, uma democracia consolidada, com uma legislação trabalhista que, apesar das limitações, funciona, e com uma jornada de trabalho definida.

Além disso, o Brasil retomou sua trajetória de um olhar mais forte para questões de sustentabilidade e de retomada de sua liderança global na discussão e incorporação de boas práticas e políticas por parte das empresas. Assim, frente a países mais autoritários e poluidores, se apresenta como uma alternativa muito interessante em uma reconfiguração dos ambientes de produção no mundo.

Exemplos claros de um potencial caminho de sucesso neste sentido são de empresas como a Veja/Vert e da Undo For Tomorrow e a ideia do “Fairly Made in Brasil”. A incorporação de valores relacionados a trabalho justo, agroecologia e verificação de procedência de insumos e produtos geraram para estas empresas um diferencial de visibilidade e aceitação no mercado europeu, aspectos que podem ser incorporados por outras empresas nacionais e podem servir de exemplo para uma nova postura de negócios para os produtos industriais brasileiros.

Contudo, tal caminho tem suas limitações e exigirá de nós algumas decisões, políticas e empresariais, relevantes. Esta posição claramente exige a aplicação de legislação e maior efetividade na gestão e fiscalização do poder público. Não é possível dar este passo, sem elevar o nível de disponibilidade de mão de obra e de aplicação de tecnologia em nossas cadeias produtivas. Além disso, há questões políticas, especialmente ligadas a parte da indústria extrativa e agropecuária nacional que precisam ser trabalhados.

São decisões que precisam ser tomadas, caminhos que precisam ser trilhados e percorridos. Contudo, mais uma vez se abre uma oportunidade de um posicionamento diferenciado do Brasil no comércio internacional. Basta saber se iremos aproveitá-lo ou não.

* Leonardo de Assis é Sócio da Cadarn Consultoria e da Nohau Escola

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