As áreas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) avançam nas empresas do Brasil e do mundo: mas quais os desafios e oportunidades que esse novo contexto apresenta para os operadores logísticos?
Por Redação
As áreas de diversidade, equidade e inclusão vem ganhando espaço nas empresas (Foto: Shutterstock)
No esteio dos novos pilares que guiam o ambiente de negócios contemporâneo como a temática ESG (Environmental, social and Governance ou Governança social, ambiental e corporativa, em adaptação livre) e a preocupação com a experiência dos colaboradores de uma empresa (employee experience), um debate que tem avançado no Brasil e no mundo e que se relaciona com essas pautas é o da diversidade e inclusão nas organizações.
Motivadas tanto por uma preocupação crescente dos consumidores com o posicionamento institucional das empresas quanto pela necessidade de atrair e fidelizar funcionários em uma economia marcada por crises nas relações de trabalho e pelo tempo, via de regra, menor que funcionários permanecem em uma corporação, os investimentos nas políticas de inclusão tem sido um caminho trilhado pelo mercado para se diferenciar na disputa por talentos e mão de obra especializada.
Sobre o primeiro ponto, em um estudo do Grupo Croma divulgado no ano passado 67% dos entrevistados disseram marcas que se preocupam a diversidade, enquanto 59% afirmam que passaram a consumir produtos e serviços que apoiam a pluralidade em seus diferentes recortes (orientação sexual e identidade gênero, raça, pessoas com deficiência, povos originários e idosos).
Já em relação ao ambiente de dificuldade quanto ao processo de manutenção dos empregados em uma empresa, tendências como o Great Resignation – demissão voluntária em massa nas organizações – ganharam projeção em todo o mundo ainda no contexto de pandemia.
Para termos uma ideia, só em setembro e outubro de 2021, mais de 8,5 milhões de americanos pediram demissão de seus trabalhos, dentro de um cenário que segue gerando efeitos desafiadores para a economia global.
Diante desse cenário, gradativamente, a diversidade e a inclusão deixam de ser ambições genéricas do mercado e ganharam, inclusive, áreas e profissionais específicos nas corporações.
Nesse sentido, os departamentos de DEI (Diversity, Equity and Inclusion / Diversidade, Equidade e Inclusão) são responsáveis, justamente, por estabelecer processos que favoreçam a expansão da multiplicidade cultural, etária e de gênero nos negócios; bem como, por zelar para que os ambientes de trabalho favoreçam a integração entre os colaboradores.
Tal integração, por sua vez, não é simples, enfrenta resistências e motiva novos debates em diferentes setores, incluindo a logística.
O DEBATE EM TORNO DA DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS EMPRESAS
Como todo movimento amplo de transformação cultural e estrutural do mercado, a busca por mais diversidade nos negócios não é uma tendência uniforme, encara oposições e seu próprio processo de aprendizado tendo-se em vista um processo inclusivo que abarque mérito e competências nas rotinas de contratação das empresas.
Em artigo recente para o Wall Street Journal, o professor de economia de Harvard e fundador da Equal Opportunity Ventures, Roland Fryer, argumenta que, mesmo pesando seus eventuais excessos – que, em seu limite, desconsideram as qualificações em prol, somente, de critérios de diversidade e podem favorecer ambientes hostis de competição no quadro de funcionários de uma companhia – as políticas de DEI são positivas no combate a discriminação corporativa e devido aos benefícios diretos que elas geram para os negócios.
Os departamentos de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) são responsáveis por estabelecer processos que favoreçam a expansão da multiplicidade cultural, etária e de gênero nos negócios; bem como, por zelar para que os ambientes de trabalho favoreçam a integração entre os colaboradores.
Fryer aponta ainda que só é possível falar em meritocracia quando se equilibramos a desigualdade estrutural da sociedade e, concomitantemente, quando não há preconceito em contratações – fator que, segundo estudo desenvolvido pelo próprio pesquisador, ainda está presente em até 15% dos processos seletivos das empresas.
A esfera dos benefícios, por sua vez, já foi quantificada por diferentes pesquisas e auxilia no sentido de demonstrar que a pauta da diversidade não se trata apenas de direcionar para o mercado a resolução de um gap social, mas de uma ação que gera resultados efetivos para os negócios.
Assim, a McKinsey apontou em pesquisa que empresas com diversidade de gênero e étnica têm um potencial de performance financeira superior, respectivamente, de 15% e 35%. O dado vai de encontro a um estudo da Harvard Business Review divulgado em reportagem da Forbes que indica um percentual 10% superior de EBITDA em companhias com equipes gerenciais mais diversas.
A reportagem cita ainda que empresas com diversidade acima da média produziram uma proporção maior de receitas provenientes da inovação (45% do total) do que as empresas com diversidade abaixo da média (26%).
DEI: UMA PAUTA QUE AVANÇA NO MERCADO
Diante de tais benefícios, as áreas de diversidade, equidade e inclusão vem ganhando espaço nas empresas, mesmo com obstáculos e pontos de ajuste nessa rota. Na pesquisa "Benchmarking: Panorama das Estratégias de Diversidade no Brasil 2022 e Tendências para 2023", 81% das corporações afirmaram direcionar recursos para ações de diversidade e inclusão (número 14% maior do que o identificado pelo levantamento anterior).
Há, no entanto, uma diferença na percepção entre as lideranças dos negócios e colaboradores de outros níveis acerca da priorização desses esforços nas companhias: segundo a PwC, 54% dos líderes afirmam que DEI é um valor declarado/área prioritária da empresa; entre os colaboradores, esse índice cai para 39%.
De acordo com a consultoria, para mudar essa percepção – e aumentar a eficácia dos programas de diversidade e inclusão – é fundamental que se invistam em quatro dimensões centrais:
- Estudo do contexto atual de diversidade da empresa a partir da análise de dados e estruturação de relatórios de transparência;
- Definição de DEI como uma prioridade estratégica e divulgar o progresso das ações para todos os stakeholders e público da empresa;
- Engajar as lideranças na estratégia de diversidade;
- Investir em uma cultura de sustentabilidade e diversidade organizacional que perpasse todos os níveis do negócio.
DIVERSIDADE & INCLUSÃO: UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA PARA A ÁREA LOGÍSTICA?
Mas e no âmbito logístico qual o panorama da diversidade? Assim como em outros mercados mais tradicionais, o setor vive um ambiente de contrastes.
Em relação a diversidade de gênero, por exemplo, ainda que o número de vagas para mulheres tenha crescido mais de 200% no setor de logística, aproximadamente 71% dos postos de trabalho são ocupados exclusivamente por homens, de acordo com números da Gupy.
Nessa mesma linha, uma pesquisa da ILOS indicou que, ainda que 81% das empresas logísticas conte com ações de sustentabilidade, somente 19% delas integra estas ações dentro de uma perspectiva mais ampla de ESG (que conta também com iniciativas de diversidade no pilar de governança social).
Transformar esse cenário, além permitir que as empresas alcancem alguns dos diferenciais competitivos apontados ao longo do presente artigo, pode auxiliar na superação de um dos principais desafios da logística contemporânea: a escassez de mão de obra: segundo dados do Denatran, por exemplo, o setor de cargas enfrenta uma baixa de quase 1 milhão de motoristas, enquanto o número de condutores com carteiras habilitadas nas categorias D e E apresentou baixa de 18% entre 2021 e 2023.
Em outras palavras: mais do que um discurso, as áreas de DEI fazem parte de estratégias organizacionais inteligentes e, no setor logístico, a diversidade se coloca como um trunfo para atrair colaboradores que poderão construir o mercado do futuro.
ESTRADAS DO FUTURO
Enfrentar o desafio dos acidentes em estradas e rodovias do Brasil não é uma questão simples e, ao mesmo tempo, trata-se de uma demanda que pede urgência. De acordo com dados da CNT (Confederação Nacional de Trânsito), só em 2022, mais de 64 mil acidentes foram registrados no país — desses, 82,1% deixou vítimas, incluindo mortos e feridos. Em termos gerais, o Brasil ocupa a preocupante posição de 3º país com o maior número de mortes no trânsito, conforme relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde).
A MundoLogística lançou a campanha “Estradas do Futuro”, uma iniciativa que conta com patrocínio da nstech e da Quartzolit, apoio da Onisys, da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e da Associação Brasileira de Logística (Abralog). Por meio da campanha, o intuito é unir os diferentes atores da cadeia logística nacional, difundindo conteúdos educacionais que tragam tanto visibilidade para a pauta da segurança no transporte rodoviário, quanto práticas e divulgação de soluções que possam colaborar com a capacitação e proteção de motoristas.