Alexandre Westphalen assume direção de Logística e Transportes do Grupo JFC

Com exclusividade para a MundoLogística, executivo comentou desafios da operação na empresa que fornece produtos para redes como McDonald’s, Burger King e Subway

Publicado em 25/09/2024 — por Christian Presa
Alexandre Westphalen assume direção de Logística e Transportes do Grupo JFC
Alexandre Westphalen tem mais de 30 anos de carreira no setor (Foto: Divulgação)

Alexandre Westphalen anunciou na última semana que assumiu a posição de diretor de Operações Logística e Transportes no Grupo JFC. Com sede em Teresópolis (RJ), a companhia é especializada na produção e distribuição de hortifrutigranjeiros (frutas, legumes e verduras) para atender tanto o mercado varejista quanto o de food service (alimentação). O Grupo JFC é fornecedor exclusivo de alface e tomate para o McDonald's em todo o Brasil, além de atender outras redes como Burger King, Subway, Bob's e Giraffas.

Com mais de 30 anos de carreira, Westphalen já passou por diferentes companhias, como Ingram Micro, Oi e TV Globo. Sua última passagem foi pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA), onde permaneceu por cinco anos e chegou ao cargo de diretor-geral de Logística.

Segundo o executivo, sua principal missão no Grupo JFC é fazer a revisão de todos os processos na busca de eficiência operacional, identificando fragilidades e pontos de perdas que podem afetar a margem de lucro da companhia. “Minha especialidade é trabalhar com a filosofia Lean, eliminando desperdícios, e estou colocando isso em prática aqui”, explicou.

Em entrevista exclusiva para a MundoLogística, Westphalen comentou os desafios de conduzir uma operação como essa — que incluem desde a alta perecibilidade do produto até a falta de mão de obra —, o papel da tecnologia nesse segmento e os planos de expansão do Grupo JFC.

Leia na íntegra!


MUNDOLOGÍSTICA: Você está como novo diretor de Logística e Transportes do Grupo JFC. Pensando de maneira geral, como esse cargo te desafia?

ALEXANDRE WESTPHALEN: O desafio aqui é bem grande. Estamos lidando com produtos hortifrutigranjeiros, que são itens altamente perecíveis. E o grande desafio é esse: receber o produto a tempo para fazer as expedições dentro do prazo, porque nossos clientes, os varejistas, querem a mercadoria na porta da loja no horário que a loja abre. Existe uma logística de coleta desses itens na roça, como a gente chama aqui, que inicia bem cedo. Esses itens chegam até às 17 horas e o primeiro veículo tem que sair às 19 horas para poder cumprir o prazo de entrega. Existe essa pressão constante de tempo. Os produtos chegam in natura, precisam ser higienizados, lavados... E eu estou falando de entrega para o varejo. A gente recebe cerca de 400 ordens de compra por dia. 30 fornecedores representam 62% do volume, e os outros 38% em média, vêm de 230 fornecedores. Isso só de verduras e legumes. Nos orgânicos é mais concentrado. É um fracionamento muito grande. Além disso, a gente enfrenta uma dificuldade enorme na disponibilidade de mão de obra na região. Estamos em Teresópolis, no interior do Rio de Janeiro, num distrito chamado Bom Sucesso. E escassez de mão de obra é um problema nacional, não é exclusividade nossa. Cada vez mais tem ficado difícil encontrar as famílias vivem da produção de hotifruti. Muitos jovens estão indo para outras carreiras, para as cidades e para os grandes centros. Isso está acontecendo há muito tempo, e agora a gente tem uma escassez de mão de obra no campo e também dentro da operação. Temos um programa que utiliza mão de obra estrangeira: venezuelanos e haitianos na sua maioria. Naturalmente existem dificuldades de adaptação à nossa cultura, mas esta adaptação tem sido rápida e de sucesso, visto que eles passam por muitas dificuldades em seus países de origem. Diria que o grande desafio é essa junção de fatores: a questão climática, a coleta na lavoura, a chegada aqui, a preparação e o picking, que que tem que ser feito de forma muito rápida e precisa, para que os veículos comecem a sair às 19 horas. Isso na operação de varejo. Temos outra operação grande aqui, que é a operação de food. A JFC é fornecedora exclusiva de hortifruti do McDonald’s a nível nacional. Pouca gente sabe que uma empresa de Teresópolis/RJ é a fornecedora exclusiva do McDonald’s no Brasil. Alface americana, cebola, tomate e outros itens. Temos uma fábrica onde processamos higienizamos, cortamos, embalamos.... Esses produtos são entregues para o operador logístico do McDonald’s, a Martin Brower, que faz a entrega nas lojas do McDonald’s. Também atendemos, aí diretamente com a nossa logística, outros clientes grandes como Burger King, Subway, Bob’s, Giraffas, Spoleto… praticamente todos os restaurantes das praças de alimentação dos shopping centers são clientes da JFC. A pressão é grande, as lojas precisam ter os produtos cedo para o preparo do dia em praticamente todos os dias da semana. Então, o desafio é garantir a eficiência desta logística de distribuição e manter a qualidade e integridade dos produtos em toda a cadeia, do começo até o final.

Você tem uma experiência muito extensa em varejo, bem como em gestão de forma geral. Como você acha que essa sua experiência prévia contribui para que essa operação do Grupo JFC possa ocorrer da forma como deveria?

Minha especialidade é trabalhar com a Filosofia Lean, eliminando desperdícios, e estou colocando isso em prática aqui. Estamos fazendo uma grande revisão de todos os processos, identificando pontos de perda que podem afetar a margem, já que estamos lidando com produtos de baixo valor agregado. Qualquer quebra, perda ou aumento de custo no transporte, por exemplo, afeta diretamente a margem da empresa. Minha missão aqui é estruturar processos, padronizar, criar procedimentos, capacitar e treinar as pessoas. Temos uma mão de obra bastante diversificada, com trabalhadores de outras nacionalidades, e é fundamental que todos sigam os padrões estabelecidos. Com isso, queremos melhorar a margem da empresa, e torna-la ainda mais competitiva. Também estamos iniciando um planejamento de campo, para que possamos cruzar a previsão de vendas com o que está sendo produzido pelos nossos fornecedores e pelas fazendas próprias. A ideia é premiar os melhores fornecedores em termos de qualidade, pontualidade e volume, além de monitorar o que está sendo cultivado para evitar excessos ou faltas de produtos no mercado. Queremos informatizar e modernizar nossos processos, algo que já comecei a implementar.

Você mencionou a questão da particularidade dos produtos e o desafio de digitalizá-los. No seu post, ao falar dessa nova posição na sua carreira, você citou o uso de tecnologia europeia. Pensando na logística de outros países com operações semelhantes à do Grupo JFC, o que é possível fazer em termos de tecnologia?

Quando mencionei a tecnologia europeia, eu me referia mais ao processo fabril, à gestão de produção, às melhores práticas e o uso de máquinas e equipamentos inovadores. Temos aqui, por exemplo, máquinas de seleção automática de tomates, equipamentos para higienização, processamento e embalagem de verduras. Esse tipo de tecnologia veio da Europa. Pude verificar isso na visita à Alemanha e Holanda no início do ano, antes mesmo de iniciar meu trabalho aqui na JFC. No entanto, em termos de logística, estamos implementando sistemas como WMS (Warehouse Management System) e TMS (Transportation Management System), adaptados à nossa realidade operacional. Nosso desafio é estar mais próximos dos clientes, entendendo as necessidades e personalizando a logística conforme cada caso. Queremos também expandir ainda mais o leque de clientes do varejo, ampliando o que já fazemos com as grandes redes de supermercados no Brasil, como Grupo Pão de Açucar, Carrefour, Assaí, Atacadão, Zona Sul, Guanabara, Mundial, Prezunic, Supermarket, entre outros.

Outra menção interessante no seu anúncio é o fato de os produtos de vocês serem embalados sem contato manual. Como isso é feito, especificamente, e qual é o impacto nos processos logísticos?

Esses produtos são processados na fábrica. Quando chegam, são higienizados e passam por uma série de equipamentos que realizam o processamento e embalamento sem contato manual. Esses produtos são embalados e dispostos em bandejas ou caixas de papelão. Esse tipo de embalagem agrega maior valor e segurança ao produto, sendo mais fácil de lidar do ponto de vista logístico. Já o produto in natura requer contentores plásticos que precisam ser higienizados para serem reutilizados diariamente, o que demanda uma logística reversa super eficiente. Se não tivermos estes contentores disponíveis para a colheita do dia seguinte, já começamos mal a jornada, e isso impacta toda a operação ao longo do dia.

Recentemente, o CEO da Modern Logistica deu uma entrevista para a MundoLogística e mencionou o modal aéreo como uma opção interessante para o transporte de produtos perecíveis. Vocês estão olhando para esse uso de modais alternativos?

No nosso caso, o valor agregado dos produtos é o principal fator limitante. Para exportações de frutas de maior valor, como aquelas que partem do Vale do São Francisco para a Europa, o modal aéreo pode ser uma opção. Porém, para hortaliças, o volume é muito grande e o baixo valor agregado não justificaria o custo do transporte aéreo. Estamos focados em modernizar nossa frota, buscando caminhões mais econômicos e testando veículos elétricos para entregas urbanas. Nosso objetivo é reduzir o impacto ambiental e otimizar a última milha com uma frota mais leve e eficiente.

O que o mercado pode esperar do Grupo JFC em termos de expansão das operações?

Já atuamos a nível nacional, mas nosso foco agora é expandir em São Paulo. Atendemos praticamente todo o estado, mas ainda temos muito potencial a explorar. Vamos abrir novos centros de distribuição no interior de São Paulo para captarmos produtos localmente e distribuí-los de forma mais eficiente, tanto para o interior quanto para a capital. Temos também nossa própria produção de alface-americana e tomate, e pretendemos agregar outros produtos e fornecedores a essas operações, criando hubs de distribuição no interior de São Paulo.

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