Entrevista com o diretor da Marcos & Farina Arquitetos, Ademir Franzoi Marcos, sobre centros de distribuição

Publicado em 13/11/2014

Ademir Franzoi Marcos

Como projetar um centro de distribuição eficiente?
Com a diminuição das áreas disponíveis para a construção de parques logísticos, empresas verticalizam seus armazéns, utilizam transelevadores, robôs, entre outras facilidades operacionais

Por Viviane Farias | Redação MundoLogística

Fundada em 1979, dirigida a projetos na área industrial, a Marcos & Farina Arquitetos inspirou-se na sistemática utilizada na elaboração de projetos industriais para a sua inserção no mercado de empreendimentos logísticos.

O seu primeiro trabalho na área logística foi em 1997, no qual atuou com pessoal especializado e engajado na logística. Seu pioneirismo garantiu a procura frequente por seus trabalhos para a realização de estudos de viabilidade técnica para grandes áreas, desenvolvimento de projetos arquitetônicos para centros logísticos, indústrias de transformação e de base, loteamentos de distritos industriais, residenciais e comerciais, acompanhamento e gerenciamento técnico e financeiro de obras, e retrofit.

Para explicar, com base em sua experiência na área, sobre as necessidades presentes no desenvolvimento de um eficiente e moderno centro de distribuição, a revista MundoLogística entrevistou o diretor da Marcos & Farina Arquitetos, Ademir Franzoi Marcos.

MUNDOLOGÍSTICA: O que um eficiente projeto de centro de distribuição tem de apresentar?
ADEMIR FRANZOI MARCOS: Precisa apresentar um pé direito suficientemente alto, para diminuir as distâncias a serem percorridas por pessoas ou empilhadeiras. Esse pé direito, atualmente, é limitado pelo sistema de sprinkler e o bombeiro é quem determina a altura, que é de cerca de 14,60 m. Existe, também, a cultura regional para a resolução dos projetos. Por exemplo, o operador logístico, em São Paulo, quer ter o maior número de docas possível no armazém, mas nem sempre utiliza todas essas docas constantemente. Há regiões, como no Rio de Janeiro, que usam um espaço maior entre docas, porque facilita a preparação de cargas, uma vez que quando o caminhão encosta, a carga está, praticamente, 100% na boca do caminhão para carregar, agilizando o processo de expedição. O que acontece muito no Rio de Janeiro, também, é o emprego do sistema de crossdocking para armazéns muito estreitos. Um centro de distribuição, no Rio de Janeiro, tem de 2.000 m² a 3.000 m² e, em São Paulo, 80 mil m² a 100 mil m², como é o caso da Riachuelo, Pernambucanas e grandes magazines, que precisam de áreas maiores e estão próximos aos seus centros produtores.

Quais os diferenciais, em termos de arquitetura, que os centros de distribuição precisam ter?
Devem ter uma boa condição de renovação de troca de ar e venezianas muito próximas ao chão, para que seja possível fazer essa troca sem deixar o volume de ar contaminado e proporcionar a sensação de conforto ao operador. É usual que se pratique entre três e seis trocas por hora de todo o volume de ar do armazém, além do isolamento térmico sob as telhas. Como as telhas são metálicas e recebem uma temperatura do sol que chega a 70° na chapa, se deixar esses 70° fazerem a radiação dentro do armazém, acaba tendo um colchão de ar muito quente na comieira. Esse isolamento térmico, praticamente, zera o efeito de radiação. Uma novidade, mas que muitos armazéns logísticos ainda não assimilaram, é a preocupação em receber caminhões bitrens, contemplando uma área para a espera desses caminhões e que possam fazer manobras, além de raios de curvatura para absorver esse novo modal. O que acontece também é que quanto maior for o parque logístico, os custos de locação são mais otimizados. Os sistemas de segurança na entrada, os custos de balança, administração e manutenção de paisagismo ficam muito pulverizados com uma área maior. Se imaginar um armazém de 10 mil m², arcando com todo o custo administrativo, de portaria e segurança, a incidência do condomínio em cima disso é muito alta. A Global Logistic Properties (GLP), a qual estamos desenvolvendo o empreendimento logístico da América Latina, tem uma vantagem grande nesse processo, visto que todos os parques da empresa têm, normalmente, 300 mil m² de área locável até mais. Quando se fala em terrenos grandes, uma vez que as cidades não oferecem tantos terrenos de grande porte, os parques logísticos vão ficando cada vez mais distantes dos polos e acabam tendo muita área de nascente, que precisa de preservação permanente, com cuidados com matas nativas. O dimensionamento de armazéns, normalmente, importa nesse processo. Há larguras máximas operacionais, acima de 100 m o armazém deixa de ser operacional e fica ineficiente.

Qual a estrutura operacional necessária para que o centro de distribuição se torne flexível e dinâmico?
Os operadores, normalmente, utilizam aparelhos com radiofrequência para que não seja necessário ir a um determinado posto para saber qual a próxima operação, ou seja, onde quer que esteja recebe as instruções. O importante para essas operações é ter um piso de boa qualidade, porque o porta-paletes tem uma rodinha muito pequena e dura, e se tiver um buraco, começa a entrar em um processo de esborcinamento contínuo, em função da movimentação, ficando, com o tempo, muito maior do que estava. Hoje, existe uma tecnologia bastante avançada para ter um piso de qualidade, com concreto de alta resistência, que não permite o início desse esborcinamento, porque se ocorre esse processo dentro do armazém, será necessário interromper toda a área para fazer o reparo e, em uma área de operações, inclusive em armazéns que operam 24 horas, é quase impraticável fazer esse tipo de reparação. Já com relação à estrutura dos pilares, em São Paulo, por exemplo, é mais barato em concreto, e a estrutura de cobertura metálica. Os pilares precisam estar fora da circulação e o sistema de iluminação não pode criar faixas no chão. Para isso, há sistemas que pulverizam a luz como se fossem luminárias. Enfim, é uma série de aspectos do projeto, que faz com que o produto fique com mais qualidade e tenha um maior leque de cobertura.

O que deve ser analisado na escolha do local onde será construído o empreendimento?
Principalmente, a distância dos grandes centros. Além disso, o pedágio é um fator determinante do posicionamento, porque pesa muito na operação logística. Como são raras essas áreas, as empresas acabam ficando muito perto do pedágio e até além dele.

É mais vantajoso ter um centro de distribuição próprio ou locar?
Acredito que locar em um condomínio logístico. O costume de o usuário ter seu próprio armazém existia há um tempo, mas tudo é muito dinâmico e se altera. Se ele tem um armazém próprio, acaba congelando um recurso que poderia investir na sua atividade fim, mas que acaba investindo em um patrimônio que não é útil para a atividade dele. O armazém custa caro. Se colocar toda a parte de movimentação de terra e pavimentação externa, por mais simples que seja, custa em torno de R$ 1.500 o metro quadrado. Se for fazer um armazém de 10 mil m², gastará R$ 15 milhões. É mais útil que gaste esse dinheiro na atividade fim e pague uma locação, que é de R$ 22,00 a R$ 26,00 o metro quadrado.

O que é necessário para se obter a certificação LEED Green Building?
São vários pré-requisitos que são pontuados, alguns deles são o sistema de captação de águas da cobertura para reuso e irrigação externa, limpeza, combate a incêndio, entre outros; iluminação natural eficiente; áreas para deficientes, com rebaixos de guias e elevadores específicos, se houver verticalização, e outros. A prefeitura determina o número de vagas de automóveis. Quando é utilizado, exatamente, o número de vagas que a prefeitura exige e não ultrapassa esse número, ganha pontos na Green Building.

Como os centros de distribuição já construídos podem se adaptar à Green Building?
É preciso fazer uma perícia de tudo o que há no centro de distribuição e um estudo para avaliar quantos pontos conseguirá na Green Building, para ver se vale a pena fazer as modificações ou não. A partir do diagnóstico para a obtenção dessa certificação, é possível quantificar e orçar.

Qual o futuro dos centros de distribuição, com relação às inovações?
Na China, devido à diminuição de áreas para a construção de centros de distribuição, houve a verticalização dos armazéns de logística. Se em determinada área é possível construir 5.000 m², consegue-se construir 10 mil m² com a verticalização, mas precisa fazer uma rampa para que uma carreta possa subir e outra descer. Em contrapartida, os americanos, japoneses e europeus têm feito um sistema de armazenagem com a utilização de transelevador, sem a operação humana, ou seja, um robô faz toda a operação de armazenagem e desarmazenagem. O pé direito pode ser de 35 m de altura, nesse caso, triplicando o volume de armazenagem. Para as empilhadeiras fazerem manobras, exige-se um corredor de 3,20 m e, para o transelevador, cerca de 1,50 m, ganhando quase o dobro na horizontal. Custa mais caro, mas é capaz de armazenar cinco vezes mais. Não precisa de mão de obra e luz, porque opera totalmente apagado. Custa caro, mas, ao longo dos anos, consegue-se repor os gastos. É uma solução futurística, mas para curto prazo.

 

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