Marcella Cunha destaca regulamentação para criar figura do operador logístico no Brasil 

Publicado em 07/08/2024

Em entrevista exclusiva à MundoLogística, a diretora-executiva da Associação Brasileira dos Operadores Logísticos reforçou a importância do PL 3757 para regulamentação do setor 

Por Camila Lucio 

Marcella Cunha destaca regulamentação para criar figura do operador logístico no Brasil 
Diretora-executiva da ABOL, Marcella Cunha (Foto: Divulgação)

No final de julho, a Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (ABOL) comemorou 12 anos de fundação, reforçando a importância do setor de logística nacional. A entidade tem como propósito regulamentar as atividades dos operadores logísticos, responsáveis pelos serviços de gestão, armazenagem, distribuição e controle de estoque, garantindo, segurança jurídica, competitividade e a sustentabilidade para o setor. 

Uma das frentes de trabalho da ABOL é o pleito para a aprovação do Projeto de Lei 3757, apresentado em julho de 2020 na Câmara dos Deputados Federais, e que tem dois objetivos principais: criar a figura do operador logístico no Brasil e atualizar o decreto sobre o estabelecimento de armazéns gerais no país, de 1903. 

“A partir desta aprovação no Congresso Nacional, esperamos que todos os órgãos anuentes envolvidos nas nossas operações — ou seja, os reguladores e fiscalizadores — compreendam melhor as atividades integradas de logística que realizamos e regular e fiscalizar de uma forma mais apropriada, reduzindo nossos custos e o tempo dedicado à fiscalização”, afirmou a diretora-executiva da associação, Marcella Cunha, com exclusividade à MundoLogística

Leia na íntegra! 


MUNDOLOGÍSITICA: Como a ABOL evoluiu em termos de representatividade e influência no setor logístico brasileiro desde sua fundação? 

MARCELLA CUNHA: A ABOL é uma entidade relativamente jovem, ao completar 12 anos. Quando olhamos para outros segmentos com entidades representativas, tanto em São Paulo quanto em Brasília, vemos entidades com 30, 40 ou até 70 anos de existência, como as do transporte rodoviário de carga, de armazém, do aquaviário e de portos.  Então, a ABOL reflete o quão recente foi a vinda destas empresas para o Brasil. Temos um estudo que revela a média de tempo em que começaram a se estabelecer no Brasil, ou seja, três décadas. A DHL e a FedEx, por exemplo, vieram para o Brasil, estimulando outras empresas, que anteriormente eram puramente transportadoras rodoviárias de carga, a apostarem também em armazenagem, distribuição, e gestão de estoque, tornando-se operadores logísticos. Hoje, a taxonomia que defendemos para o operador logístico é essa: uma empresa que, no mínimo, transporta, armazena e faz gestão de estoque, além de oferecer outros serviços integrados de logística. A ABOL vem evoluindo no mesmo ritmo da importância dos operadores logísticos no Brasil. Cada vez mais, as empresas vêm ganhando destaque. A pandemia jogou uma luz sobre o setor, pois foram os operadores logísticos que se responsabilizaram pela importação, produção e deslocamento interno das vacinas e insumos, utilizando diferentes modais. Desde que entrei na ABOL, em 2021, conseguimos destacar a importância do setor, principalmente entre órgãos de governo federais. A sociedade também começou a conhecer melhor o trabalho destas empresas. A ABOL vem ganhando destaque e ocupando seu espaço no mesmo ritmo em que as empresas vêm ocupando seu espaço dentro do mercado de logística e na vida das pessoas. Mas, acredito que houve um “boom” acelerador a partir da pandemia, em 2020. 

Como você avalia o papel dos operadores logísticos no cenário atual da logística brasileira? 

Os operadores logísticos são peças fundamentais para a cadeia produtiva e de abastecimento no Brasil. Estamos falando de empresas que estão presentes em todas as etapas da logística. Algumas focam no abastecimento de indústrias, outras no last mile, e outras ainda em toda a cadeia, podendo ser importantes no planejamento estratégico e logístico de um embarcador de forma completa ou em partes da logística. Empresas que querem terceirizar serviços logísticos para focar no seu core business contam com uma grande gama de operadores logísticos que podem atendê-las de forma personalizada e customizada. Hoje, temos desde grandes multinacionais, como DHL e FedEx, até empresas nacionais de médio e grande porte que podem atuar em qualquer parte da cadeia produtiva de abastecimento. Alguns focam mais em operações portuárias, outros em transporte aéreo, rodoviário, etc. Estimamos que existam cerca de 1,3 mil empresas operadoras logísticas no Brasil. A ABOL representa 31 dessas empresas, principalmente as grandes em termos de faturamento. Essas empresas têm um grande poder de capilaridade, atuando nas cinco regiões brasileiras, e oferecem serviços integrados muito abrangentes, mesmo sem possuir todos os ativos. Por exemplo, um operador logístico sem aeronaves pode oferecer serviços aéreos por meio de parcerias com empresas como Latam Cargo e GOLLOG. Portanto, os operadores logísticos têm essa importância por atenderem às necessidades de qualquer tipo de cliente e atividade econômica no Brasil. 

Qual é o diferencial do operador logístico brasileiro? 

O diferencial é justamente o poder de flexibilidade e customização de serviços. Ser considerado um “one-stop-shop”, onde a empresa, o operador, o cliente ou embarcador encontram todas as soluções logísticas que atendem suas demandas, é algo muito particular do operador logístico. Isso evita a necessidade de contratar individualmente transportadores rodoviários, operadores ferroviários, empresas de transporte aéreo, empresas de armazenagem, etc. Eles podem terceirizar tudo isso para o operador logístico, que cuida integralmente da operação. O operador logístico pode fazer isso até dentro da casa do cliente, em operações in-house. 

Existem novas regulamentações ou mudanças legislativas que você considera cruciais para o desenvolvimento do setor? 

Sim, com certeza. O primeiro deles é o Projeto de Lei PL 3757 /2020, que tem o nosso apoio e que cria um marco legal específico para o operador logístico no Brasil. A partir desta aprovação no Congresso Nacional, esperamos que todos os órgãos anuentes envolvidos nas nossas operações, ou seja, os reguladores e fiscalizadores, compreendam melhor as atividades integradas de logística que realizamos e regular e fiscalizar de uma forma mais apropriada, reduzindo nossos custos e o tempo dedicado à fiscalização. Um exemplo claro é a operação de cross-docking, que não implica em armazenagem de produtos e mercadorias, mas que algumas agências reguladoras não compreendem isso e exigem que o produto seja armazenado ao chegar no terminal de cross-docking. Eles precisam entender que o produto está no terminal por um tempo curto, logo sendo transportado para outro modal e chegando ao seu destino final. 

Qual é o legado que a ABOL deseja deixar para os próximos anos? 

O legado da ABOL continua sendo construído. O grande legado será perpetuar ao longo do tempo, acompanhando o desenvolvimento dos operadores logísticos no Brasil. Eles investem muito em tecnologia, novas soluções e inovação. O grande legado da ABOL será acompanhar o ritmo dos operadores logísticos, representando-os da melhor forma possível para os governos, o mercado e a sociedade.

 

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