Evento reuniu professores, especialistas, representantes públicos e empreendedores do Brasil e do exterior
Nos dias 7 e 8 de junho, ocorreu na sede da Agência Reguladora de Transporte do Estado de São Paulo (ARTESP) o seminário “Eficiência em Logística Urbana: desafios atuais e soluções inovadoras e sustentáveis” (Efficiency in Urban Logistics: Current challenges, innovative & green solutions, em inglês). O evento foi organizado e promovido pelo Banco Mundial em São Paulo.
O evento proporcionou um fórum para uma ampla e enriquecedora discussão sobre a Logística Urbana, unindo mais de 20 palestrantes nacionais e internacionais às experiências de cerca de 100 convidados de diversas entidades. Na ocasião, órgãos de fomento (Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, The International Council on Clean Transportation), públicos (Secretarias de Transporte e Desenvolvimento Econômico, Ministério das Cidades), consultorias (EY, McKinkey), empresas privadas (Transfolha, Grupo Pão de Açúcar, B2W), universidades (FGV, USP, UFMG, UFC, UFSCar) e startups (RoutEasy, Scipopulis, Eu Entrego) também estiveram presentes.
O papel essencial da tecnologia
Na ocasião, um dos temas discutidos foi o papel essencial da tecnologia na logística urbana. Segundo o professor José Hoguin-Veras, que atua no Instituto Rensselaer em Nova Iorque, entre 2009 e 2014, a quantidade de viagens geradas por pessoas que compraram pela internet nos EUA mais que dobrou (de 0,04 para 0,10 entregas por pessoa). Além disso, mais de 45% dos empregos nos EUA dependem diretamente do transporte de carga e em Manhattan, 80 grandes edifícios são responsáveis por cerca de 5% de todo o frete da cidade.
O professor Ciro Biderman apresentou o MobiLab, uma iniciativa coordenada por ele e gerida pela prefeitura de São Paulo. Trata-se de um laboratório de soluções para a mobilidade da capital, que não apenas facilita a criação e o desenvolvimento de startups focadas em resolver problemas da cidade, como também gera soluções para aumentar a eficácia de órgãos públicos.
Representantes de startups como Scipopulis, Woole, Safetruck e RoteEasy apresentaram soluções, visões e contribuições para o segmento.
Universidades: mediadoras e responsáveis pelo aporte técnico
No seminário, foi bastante reforçada a importância das universidades como mediadoras de atividades e responsáveis pelo aporte técnico em projetos que visam à eficiência em logística urbana.
O professor Hugo Yoshizaki, do Centro de Inovação em Sistemas Logísticos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (CISLOG POLI-USP), mostrou o Programas de Entregas Noturnas, que está em andamento em cidades como São Paulo, Nova Iorque, Bogotá e Londres.Alinhado com um grupo de iniciativas trazidas pelo professor José Hoguin-Veras, e com claros ganhos para a redução do trânsito, da emissão de poluentes e para aumento da eficiência operacional. “O programa demanda coordenação entre as partes (empresas de varejo, órgãos de gestão pública e transportadores), além de cuidadosa análise de regiões com potencial para esse tipo de otimização”, reforçou.
Crowdshipping e outras soluções inovadoras
O crowdshipping foi apresentado em duas partes: primeiramente como estudo acadêmico e, depois, de forma prática, por uma startup nacional. Esse modelo que permite a pessoas comuns entreguem encomendas que estejam no trajeto possibilita que o processo de entrega seja mais rápido e econômico. Bo Zou, da Universidade de Illinois em Chicago, apresentou o estudo acadêmico e João Paulo Camargo, fundador e CEO da “Eu Entrego”, trouxe o caso real – um aplicativo que conecta pessoas e negócios a uma comunidade de entregadores independentes.
Paulo Oliveira, do Banco Mundial, mostrou o projeto focado em logística urbana do e-commerce: Giulia (Geographic Information for Urban Logistics Interventions Analysis), juntamente com a consultoria responsável, a Geologística. Trata-se de uma ferramenta open source para uso de planejadores urbanos públicos. O sistema permite simular os impactos de políticas ligadas à distribuição urbana através de indicadores de emissão de poluentes, de ruídos e a quantidade de veículos necessários.
Prefeituras e órgãos públicos como fomentadores de iniciativas
Uma pesquisa trazida pelos professores Leise Oliveira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e José Geraldo Vieira, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar Sorocaba), revelou que o tema “logística urbana de carga” está contemplado em apenas 10% dos planos de mobilidade das cidades brasileiras. Como alternativa para minimizar a carência de soluções logísticas e de dados que fundamentem as propostas, os professores trouxeram sugestões para aprimorar a estruturação dos planos, incluindo iniciativas inovadoras, como o uso de bicicletas de carga, e o fortalecimento da formação técnica dos planejadores públicos.
Já o professor Bruno Bertoncini, da Universidade Federal do Ceará (UFC), apresentou uma forma viável para obtenção de dados para análises de fluxos nas cidades por meio da Nota Fiscal Eletrônica. O projeto permitiu uma análise de fluxos de carga, de uso de solo e de tendências de deslocamentos na cidade, e coletou informações de três áreas distintas: Secretaria da Fazenda, Secretaria de Finanças e Ministério do Trabalho e Emprego.
Representando a Secretaria de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, Milton Xavier exibiu o plano estratégico para abastecimento da Região Metropolitana da Cidade de São Paulo. O intuito do projeto foi avaliar as situações atual e futura dos diversos acessos à capitar, identificar gargalos e propor oportunidades de otimização.
O seminário contou ainda com apresentação da professora Laetitia Dablanc, do Instituto Francês de Ciência e Tecnologia para Transporte, Planejamento Urbano, Desenvolvimento e Redes (IFSTTAR), que mostrou diversas tendências e inovações em logística urbana nos grandes centros do mundo: hotel logístico urbano, integração modal, reordenação do uso do solo, entrega imediatas, centro urbano de carga.
Eficiência Logística na prática: estudos aplicados e soluções implementadas
O último bloco do seminário foi composto de uma sequência de apresentações de cidades e mostrou a aplicação de soluções que visaram à eficiência logística urbana no Rio de Janeiro, em Recife, em São José dos Campos e em Montevideo, no Uruguai.
O professor Marcio D’Agosto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trouxe uma série de estudos e projetos aplicados na cidade do Rio de Janeiro: entrega noturna, coleta de lixo, treinamento de motoristas para reduzir emissões e gastos, operação de centro urbano de carga. O professor também citou uma parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em Boston, EUA) em estudos de logística nas megacidades.
De Recife, Sideney Schreiner apresentou o plano de mobilidade da cidade. O plano é baseado na integração entre as frentes que impactam a mobilidade urbana e traz ações relacionadas à movimentação de cargas.
O Secretário de Desenvolvimento Econômico de São José dos Campos, Alberto Alves Marques Filho, mostrou o plano de atratividade da cadeia logística da cidade, que tem como objetivo incentivar um papel para a região de polo logístico integrado do Estado de São Paulo. Além do foco em integração de modais e conexão entre cidades, o plano trabalha também com incentivos e visão de médio-longo prazo.
O último caso apresentado veio de Montevideo, Uruguai, com o professor Martin Tanco, da Universidad de Montevideo (UM). Dados o movimentado porto existente na cidade e o crescimento do consumo e do trânsito, o trabalho desenvolvido buscou otimizar a cadeia de distribuição como um todo. Diversas iniciativas foram analisadas e propostas: a revisão dos horários de restrição de veículos, a definição de janelas de entrega mais amplas junto aos comércios, a melhor alocação de vagas de carga/descarga, entre outras.
O seminário promoveu discussões em pequenos grupos, com a participação de todos os convidados, e foi encerrado com um painel de debate. Nos grupos, foram discutidos problemas, soluções e formas de viabilizar a implementação para situações tão distintas quanto atendimento a favelas, entregas de e-commerce nos grandes centros e distribuição de grandes volumes. No painel de encerramento, moderado pela especialista em transporte urbano Bianca Bianchi Alves, do Banco Mundial, especialistas trouxeram os tópicos discutidos em grupo e expuseram visões sobre o tema.