Alta no número de pedidos fracionados criou desafios para a logística brasileira, mas gigantes como Mercado Livre, Amazon e L’Oréal se consideram preparadas para atender às demandas
Por Christian Presa
Foto: Divulgação
Não há como pensar em escalabilidade das operações – e, consequentemente, em êxito de negócio – sem considerar a intralogística como um dos elos mais importantes de uma cadeia produtiva. Essa percepção é enfatizada pela solidez do e-commerce, que deverá alcançar a marca de US$ 5,5 trilhões em vendas ao redor do mundo, de acordo com dados da pesquisa realizada pela eMarketer.
O crescimento do número de pedidos feitos via e-commerce é um desafio para a intralogística, é claro. No entanto, um obstáculo que talvez seja até maior é o fato de essa alta do comércio eletrônico ser preponderante para fracionar os pedidos, já que isso tem um impacto direto nas operações em centros de distribuição.
Apesar disso, o Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) de Logística, pesquisa encomendada pela TOTVS e conduzida pela H2R Pesquisas Avançadas, 38% dos varejistas entrevistados investem em um sistema de gestão para a área de armazenagem – mesmo que 92% das empresas participantes tenham confirmado que possuem um setor voltado à essa área.
Mas esse cenário tende a mudar, especialmente depois do que se viu no auge da pandemia de Covid-19. O executivo sênior de Vendas da Pitney Bowes, Murilo Namura, destaca que a crise sanitária foi o momento em que muitas empresas enxergaram o potencial da intralogística para impulsionar resultados.
“Um dos grandes diferenciais brasileiros sempre foi trabalhar com muita criatividade nos processos internos, principalmente para atender a grande variedade de clientes e objetos movimentados. [...] No Brasil, podemos observar que em muitos seguimentos de produtos há grandes oportunidades de especialização e melhora de performance, principalmente se houver investimentos em processos, automações e operadores/embarcadores com seus perfis de produtos definidos.” – Murilo Namura, executivo sênior de Vendas da Pitney Bowes.
O investimento em intralogística é visto como diretamente proporcional à melhoria dos resultados pelo gerente de Vendas do Damon Group, Rubens Gomes. “Podemos esperar para os próximos anos grandes investimentos em tecnologias para intralogística por parte das empresas, com o objetivo de reduzir custos operacionais, ter ganho de escala, aumento de capacidade e principalmente aumento de performance e produtividade.”
“Ainda há muito espaço e muitas tecnologias a serem exploradas no Brasil. Muitas operações logísticas ainda são manuais e culturalmente existe uma barreira tecnológica que muitas empresas ainda precisam quebrar, mas ao longo dos últimos anos, as empresas no Brasil vêm se atualizando e pensando de forma inovadora para implementações de soluções tecnológicas para a logística que já existem em outros países.” – Rubens Gomes, gerente de Vendas do Damon Group.
Segundo o Key Account Manager da Bertolini, Israel Schimitz dos Santos, o aumento na unitização é algo que deve aumentar nos próximos anos. “[Aumentará a] necessidade de controle, velocidade de picking e o aumento de SKUs na operação. Tecnologias e ferramentas para picking que já são utilizadas lá fora tendem a ser cada vez mais demandadas por aqui.”
“No Brasil, é comum deixar os custos logísticos em segundo plano e geralmente os investimentos são decididos quando a infraestrutura atual já apresenta riscos para a operações. Outro diferencial brasileiro atualmente é a busca crescente de informação sobre novas tecnologias, o aumento no volume de projetos, porém a tomada de decisão ainda conflita com o custo de mão de obra operacional e valor/m² da infraestrutura.” – Israel Schimitz dos Santos, Key Account Manager da Bertolini.
A INTRALOGÍSTICA EM GRANDES PLAYERS BRASILEIROS
Atualmente, o Mercado Livre é o listado como o 2º maior e-commerce do Brasil – e fica no topo da lista, se considerados negócios sem lojas físicas. Na empresa, a infraestrutura é considerada um pilar para a eficiência logística.
Nesse sentido, o diretor sênior de Operações Logísticas do Mercado Livre, Luiz Vergueiro, destacou que a intralogística está presente nas mais diversas estruturas dentro da operação da empresa, contemplando cross-docking, fulfillment e last mile.
“
A operação de cross-docking, ao longo dessa jornada, foi automatizada com esteiras e sorters para que esse processo ganhasse mais velocidade e eficiência. Depois, avançamos mais um passo nas operações de fulfillment, que foi idealizada para que pudéssemos entregar melhores experiências tanto para o comprador quando para o vendedor. O fulfillment é, talvez, o elo mais importante de intralogística dentro da nossa rede. Ele é tão importante pra nós que nossos investimentos em tecnologia e sistemas nessa área estão sempre na nossa prioridade. Por fim, a intralogística também impacta na operação de last mile, na roteirização dos pedidos que vão chegar no consumidor final.” – Luiz Vergueiro, diretor sênior de Operações Logísticas do Mercado Livre.
Na concorrência, a status de relevância da intralogística também não destoa muito. Segundo o site leader da Amazon no Rio de Janeiro, Renê Neto, a operação da empresa depende da organização e sinergia entre cada área para manter um inventário acurado.
“Recebimento, Qualidade e Learning atuam em constante melhoria de processo para que a Expedição faça o papel final de empacotar e enviar os itens de forma rápida e precisa. Fazendo uma analogia ao futebol, é como se essas áreas preparassem a jogada inteira para a Expedição empurrar a bola para a rede. Dentro dos CDs, temos estratégias de armazenagens que levam em consideração o giro dos itens no inventário, o que garante que o time da expedição tenha um acesso mais rápido e fácil dos produtos. As linhas de embalamento também são configuradas de forma a otimizar o processo para grupos específicos de itens.” – Renê Neto, site leader da Amazon no Rio de Janeiro.
Em julho deste ano, a MundoLogística publicou uma matéria exclusiva sobre o estilo das operações da empresa no Brasil. Um dos destaques foi a estratégia de armazenagem sortida, caracterizada pela distribuição de produtos diversos de forma quase aleatória, seguindo tendências de consumo. “Temos estratégias de armazenagens que levam em consideração o giro dos itens no inventário, o que garante que o time da expedição tenha um acesso mais rápido e fácil dos produtos”, explicou Neto.
No caso da L’Oréal Brasil, a intralogística foi definida pelo diretor de Distribuição Física, Renan Loureiro, como “um órgão vital, pois toda a eficiência de performance, qualidade e custos depende da aplicação de inteligência nestes processos e sistemas internos”.
“Agilidade e flexibilidade são requisitos mandatórios e para atender um mercado consumidor cada vez mais exigente. [...] O nosso novo Centro de Distribuição GAIA é um ícone deste movimento e está gerando um impacto positivo em todo o entorno e em nossas operações. [Temos] novas tecnologias de picking, que aumentaram em quase duas vezes a nossa produtividade.” – Renan Loureiro, diretor de Distribuição Física da L’Oréal Brasil.
O IMPACTO DO FAST DELIVERY
A entrega rápida é um fator decisivo nas compras online. Segundo o Capterra, que realizou uma pesquisa com mais de 1 mil participantes, 49% dos entrevistados consideraram a rapidez na entrega como o fator mais importante no e-commerce, superando inclusive o valor do frete (33%).
“No final das contas, ter um processo dentro da sua gestão muito bem controlado e gerido vai te dar a velocidade e eficiência necessárias para a sua operação”, destacou Luiz Vergueiro, do Mercado Livre. “Eu sempre digo que a Logística não mudou, do analógico para o digital. Ainda é um problema de densidade e de escala. O e-commerce gera uma complexidade que está muito associada à entrega. Estamos falando da saída de produtos de um CD para centenas de compradores ou de uma entrega onde há coleta em vários lugares. A tecnologia veio para ajudar a escalar e ter controle nesse processo.”
No entanto, o executivo enfatizou que a tecnologia em intralogística é um recurso para trazer eficiência e valorizar o papel humano, que pode ser deslocado para atividades de valor.
“O trabalho humano ainda vai continuar existindo na Logística. Ainda estamos muito longe de ter automação completa em todas as operações, então terão muitas pessoas empregadas. A grande coisa é que as pessoas vão ser usadas para as atividades que agregam mais valor e que tenham mais importância dentro da operação, enquanto a tecnologia servirá para simplificar o trabalho dessas pessoas.” – Luiz Vergueiro, diretor sênior de Operações Logísticas do Mercado Livre.