O Brasil é um país de dimensões continentais onde o transporte rodoviário movimenta cerca de 60% das cargas, um dos maiores percentuais do mundo. Diante desse cenário, otimizar a malha logística se torna crucial para melhorar a eficiência, reduzir custos e aumentar a competitividade das empresas.
Em uma recente entrevista exclusiva à MundoLogística, o novo diretor de Logística da SHEIN para a América do Sul, Cesar Borges, destacou seu objetivo de expandir o marketplace da empresa no Brasil — que já representa 55% das vendas locais e atinge 45 milhões de usuários.
Segundo a companhia, o crescimento do marketplace está diretamente relacionado ao reforço da malha logística. Nesse sentido, o executivo explicou que a SHEIN escolheu focar essa expansão de malha nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Atualmente, a operação da SHEIN ocupa o maior empreendimento da GLP no Brasil, em Guarulhos. Neste galpão, a companhia firmou parceria com a DHL para otimizar o receiving center de encomendas dos sellers brasileiros.
A SHEIN não está sozinha nessa busca por crescimento no Brasil. A Shopee também tem intensificado seus esforços para otimizar suas operações logísticas, visando melhorar a experiência de consumidores e vendedores. Com 11 centros de distribuição estrategicamente localizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Goiás e, recentemente, no Rio Grande do Sul, a empresa pretende aumentar a capilaridade das entregas no território nacional. O marketplace possui mais de 100 hubs logísticos de primeira e de última milha.
GLP: MERCADO DE LOCAÇÕES EM SÃO PAULO
Para atender a essas demandas crescentes de grandes players como SHEIN e Shopee, o mercado de locações de galpões logísticos tem se mostrado aquecido em São Paulo, onde a GLP deteve cerca de 30% do market share nos primeiros cinco meses de 2024. De acordo com o monitoramento da SiiLA, até maio de 2024 a região de São Paulo teve absorção bruta de 913,6 mil m². Desse montante, 842,2 mil m² foram locações realizadas neste ano, segundo a JLL.
As duas maiores locações do mercado foram para o Mercado Livre e a Shopee, nos empreendimentos da GLP localizados próximos à capital paulista. Juntas, as operações somam 182 mil m² em locações de condomínios logísticos.
De acordo com o ranking da JLLE, a GLP alcançou 371 mil m² de novas locações no Brasil em 2023, registrando um aumento de 25% em relação à área total locada no ano anterior.
A maior transação do período foi realizada para a SHEIN, compreendendo a locação de 135 mil m² no GLP Guarulhos II, considerado o maior condomínio logístico classe AAA do mercado no país.
IMPACTOS DA REFORMA TRIBUTÁRIA NAS MALHAS DE ABASTECIMENTO
Esse crescimento na demanda por locações também reflete os desafios enfrentados pelas empresas em adaptar as malhas de abastecimento diante das mudanças regulatórias, como a Reforma Tributária recentemente promulgada. A reforma, que busca simplificar a cobrança de impostos sobre o consumo para incentivar o crescimento econômico, levanta questionamentos sobre os impactos na logística do país.
No final de 2023, o ILOS conduziu uma pesquisa com executivos de Supply Chain de grandes empresas no Brasil, na qual 78% dos participantes afirmaram que os fatores fiscais foram determinantes na definição das suas respectivas malhas de distribuição, com cerca de 40% do faturamento dessas empresas oriundos de centros de distribuição incentivados.
A temática segue acesa em 2024, sendo pauta em debate de executivos do setor em evento organizado pela MundoLogística em fevereiro de 2024. Durante a discussão, Patricia Bello, Supply Chain Transformation Director da Leroy Merlin, arriscou dizer, em 99% dos casos, o ganho tributário é maior do que qualquer custo de frete de transporte de locação colocado na equação. Segundo a executiva, o desenho de malha é uma equação complexa que quer balancear nível de serviço, ESG, custos e, no caso no Brasil, o aspecto tributário.
Em artigo publicado na edição 86 da MundoLogística, Décio Tarallo, destacou que uma malha logística bem estruturada considera diversos impactos de matéria-prima nacional ou insumos importados, a aplicação ou não se substituição tributária, a análise de composição de crédito x débito do ICMS no resultado composto e os potenciais benefícios oferecidos por estados e suas características envolvidas, como diferir créditos na entrada.
“Um dos grandes impactos também se referem aos clientes, pois qualquer alteração promovida no sistema do ICMS implica em garantir ou não crédito tributário na cadeia subsequente e variação potencial de preço de venda – ora positivo para as empresas que querem maior competitividade, ora negativo, pois poderá implicar em perda de margens. O fato é que o Brasil não é trivial neste campo e muitas considerações devem ser bem estabelecidas antes de se preparar um bom estudo de malha logística”, afirmou o executivo.
LOGÍSTICA DO FUTURO
A otimização da malha logística estará em destaque no Logística do Futuro, evento promovido pela MundoLogística que reunirá profissionais e especialistas do setor para discutir e explorar as tendências, inovações e melhores práticas que moldarão o futuro da logística.
Com mais de 70 palestrantes abordando temas como omnicanalidade, Inteligência Artificial e responsividade, o evento será realizado nos dias 2 e 3 de outubro no Transamérica Expo, em São Paulo. As inscrições podem ser realizadas no site oficial: https://logisticadofuturo.com.br/.