LogFut 24 - Banner Home LogFut 24 - Banner Home

Como o caso dos mineiros soterrados no Chile pode inspirar descarbonização do transporte de cargas

Publicado em 27/08/2024 — por Leonardo Nogueira Mendonça *
Como o caso dos mineiros soterrados no Chile pode inspirar descarbonização do transporte de cargas
(Foto: à esquerda, Getty Images; à direita, Shutterstock)

Em 2010, o mundo assistiu atento ao desfecho do drama devido ao soterramento de 33 mineiros em uma mina de ouro e cobre no Deserto do Atacama, no Chile. Ocorrido no dia 5 agosto e se estendendo, por 69 longos dias de confinamento, até 13 de outubro do mesmo ano, esses 33 bravos homens foram resgatados, todos com vida.

Mas o que este evento tem em comum com os desafios que temos para descarbonizar o transporte de cargas no Brasil e no mundo? Quais lições podemos extrair deste episódio e levar para as estratégias de Sustentabilidade de nossas organizações?

Listo abaixo cinco lições simples e práticas extraídas desse evento ocorrido em 2010 e que podem orientar na busca por uma estratégia de descarbonização do transporte de carga para embarcadores, transportadores e clientes.

1. A IMPORTÂNCIA DE CONHECER O DESAFIO A SER SUPERADO

À medida que as horas se passavam logo após o registro do soterramento e o reconhecimento da área avançava, ficou claro que o resgate daqueles homens seria um grande desafio devido ao completo fechamento do túnel de saída causado por uma rocha de 130 toneladas.

Quando falamos de descarbonização das operações logísticas, também estamos falando de um grande desafio — principalmente porque, no Brasil, somos dependentes do modal rodoviário e este é um segmento com grande impacto tanto na economia quanto na emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE).

Para avançar na superação desse desafio, precisamos conhecer a realidade das emissões das nossas operações, para então traçar um planejamento e criar um roadmap de descarbonização. A máxima de que não se gerencia aquilo que não se mede também vale para as emissões de GEE.

Dessa forma, se você tem intenção de obter sustentabilidade para suas operações logísticas buscando a descarbonização do transporte rodoviário, o primeiro passo é conhecer o tamanho do desafio. Isso deve ser realizado por meio de um inventário de emissões bem estruturado e com dados que permitam análises e projeções que estejam alinhadas com a estratégia da companhia.

2. RECONHECER QUE ISSO É UM PROBLEMA GLOBAL

Embora saibamos que resgates em minas subterrâneas não são simples ou triviais, nas primeiras horas após o soterramento acreditava-se que o processo de resgate daqueles mineiros seguira os ritos e procedimentos previamente estabelecidos e conhecidos mesmo após o fechamento do túnel de saída, pois ainda restava o caminho criado pelos dutos de ventilação. Porém, a medida em que as horas se passavam, novos desmoronamentos ocorreram, agravando ainda mais o contexto — incluindo o fechamento do duto de ventilação.

No terceiro dia, o diagnóstico era desesperador: não havia uma forma de como resgatá-los. Neste momento, o que era um drama local passou a ser considerando um drama global e pessoas ao redor de todo mundo passaram a acompanhar a saga daqueles 33 homens, tentando buscar formas de resgatá-los.

Dadas as devidas proporções, a descarbonização do transporte de cargas também é um problema global. A eliminação dos GEE é uma questão de extrema relevância para a sobrevivência da humanidade em função da necessidade de mitigar questões da crise climática e seus impactos catastróficos, caso o aumento da temperatura da terra não seja limitado em 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais.

Considere que o compromisso de descarbonizar o transporte de cargas não é apenas uma estratégia de Marketing ou que visa a sustentabilidade do negócio. Trata-se de uma decisão de negócio que está contribuindo para toda humanidade e, com certeza, seus esforços farão mais sentido e o engajamento dos envolvidos será proporcionalmente maior.

3. NÃO DEIXE A FALTA DE EQUIPAMENTOS LIMITAR SEUS OBJETIVOS

Quando a localização dos 33 mineiros foi confirmada após 17 dias do soterramento, eles estavam concentrados em uma área de refúgio à 720 metros da superfície e não havia nenhum equipamento habilitado ou desenvolvido para este tipo de resgate.

Mas isso não foi um fator limitador — muito pelo contrário. Por meio de uma rede que envolveu desde a Marinha Chilena até Agência Espacial Americana (NASA) com expertise em ambientes espaciais, um engenhoso sistema de perfuração que atingiu 567 metros de profundidade e uma capsula, apelidada de “Fênix”, com 3,9 metros de altura e 54 centímetros de diâmetro, foi projetada para trazer individualmente cada mineiro a superfícies.

O mesmo acontece com a descarbonização do transporte de cargas, principalmente quando falamos de veículos pesados e descarbonização de outros modais como ferroviário e marítimo. Para o transporte rodoviário urbano, leve e semipesado, já foram desenvolvidas algumas tecnologias que podem substituir o diesel reduzindo e, em alguns casos, até eliminando a emissão de GEE. Porém, no campo de veículo pesados, ferrovia e transporte marítimo, existem poucas alternativas disponíveis no mercado e o gap entre demanda e opções de tecnologias é imenso. Mas há muita gente engajada na busca por neutralizar as emissões de GEE desses equipamentos/modais, trazendo bastante inovação, que vai desde retrofit para converter veículos a diesel em elétricos até a navios movidos com auxílio e pás eólicas.

Da mesma forma com que a situação que ocorreu no Chile, estamos com um grande laboratório a céu aberto em nossas mãos, e que necessita de um desenvolvimento e aplicação rápido de novas tecnologias para frear as emissões de CO2. Sob o risco de uma catástrofe climática que pode impactar — e, em alguns casos, até tirar — a vida de milhares de pessoas, caso o aumento da temperatura da Terra não seja contido

Então, quando estiver analisando a descarbonização do transporte nas suas operações, se não encontrar o equipamento disponível, lembre-se que isso não é uma limitação e sim uma oportunidade de desenvolvimento para colocar sua empresa na vanguarda do uso de novas tecnologias. E, sem dúvida, isso também impactará o futuro do nosso planeta

4. A IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL DA COLABORAÇÃO

Esses homens jamais seriam resgatados sem que uma cadeia global de colaboração tivesse sido criada para vencer o desafio de tirá-los de lá com vida. O engajamento de autoridades, médicos, engenheiros, psicólogos, familiares e diversas outras entidades de diversos continentes permitiu que três planos de escavação fossem planejados, com apenas um deles (o plano B) sendo bem-sucedido: após 23 horas do início do resgate, o último mineiro chegou à superfície.

Não é diferente com a descarbonização do transporte de cargas. Dado o tamanho do desafio que temos nas mãos, a colaboração entre embarcadores, transportadores, operadores logísticos e clientes é peça-chave para o sucesso desse desafio.

Gosto de uma frase do Carlito Paes que diz o seguinte: “ninguém faz nada grande sozinho; se fez, é porque não é grande”. Essa frase traduz de forma objetiva como a colaboração acontece, e descarbonizar o transporte é um desafio gigante — tão grande quanto a colaboração que precisamos para alcançar a tão almejado Net Zero no transporte de cargas.

5. CELEBRE E COMPARTILHE CADA AVANÇO

No decorrer dos 69 dias, entre o soterramento até o completo resgaste dos 33 mineiros, várias pequenas conquistas e obstáculos foram superados. Inicialmente, não se conhecia a localização deles; depois, quando eles foram encontrados e houve a confirmação de que todos estavam bem, foi enviado um sistema de cabeamento para comunicação por vídeo, além de comida, água e suporte médico remoto. E assim se seguiu até o desfecho que todos nós conhecemos.

O fato é que cada pequena conquista, avanço e obstáculo superado era compartilhado com toda equipe envolvida e espectadores, criando um ambiente de esperança e de participação de todos em resolver este desafio. Até as tentativas frustradas eram compartilhadas para que todos soubessem o que estava dando certo e o que não estava.

Devemos fazer o mesmo com a descarbonização do transporte, pois a jornada para neutralização das emissões dos GEE é longa e deve ter cada avanço e conquista celebrado e compartilhado. Com isso, todos os stakeholders envolvidos — desde colaboradores a clientes e fornecedores — irão se envolver para fazer parte, de forma colaborativa, desse desafio.

CELEBRAR É PARTE DA CONQUISTA!

Acredito que essas cinco lições possibilitam uma reflexão valiosa que podemos levar em consideração na construção do roadmap de descarbonização, na definição de metas e na estratégia de descarbonização de qualquer empresa e segmento de mercado. Afinal de contas, assim como a vida desses 33 mineiros, eliminar os impactos dos gases do efeito estufa é uma questão de sobrevivência tanto para humanidade, quanto para as organizações.

Com isso, quero chamar sua atenção para importância de conhecer suas operações de transporte de cargas e entender o tamanho da jornada a ser trilhada.

Afinal de contas, a descarbonização é uma jornada — e não um destino.


* Leonardo Nogueira Mendonça é especialista de Logística na ArcelorMittal Brasil Aços Planos.

Exclusivo e Inteligente

Mantenha-se atualizado em Logística e Supply Chain

Saiba mais