Iniciativa da Childhood Brasil, Na Mão Certa tem como objetivo promover uma ampla união de esforços para acabar com a exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas
Por Redação
Motorista de caminhão na estrada (Foto: Shutterstock)
No quadro de violência que se coloca como um dos principais desafios da sociedade brasileira, a exploração sexual de crianças e adolescentes é um ponto alarmante que exige ações imediatas de segurança pública, dos governos e de representantes do meio civil e empresarial, de modo que possamos enfrentar um contexto que coloca em risco a segurança de vulneráveis e que, mais do que nunca, segue presente: só nos primeiros 4 meses de 2023, o número de denúncias de abusos contra crianças e adolescentes cresceu 70%, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Dentro desse cenário, é importante que haja um olhar mais atento para as estradas brasileiras, haja vista que, até hoje, elas concentram muitas zonas de risco para a exploração de menores.
Nesse sentido, o envolvimento de operadores logísticos e a sensibilização de caminhoneiros para que atuem junto a promoção dos direitos de crianças e adolescentes se faz crucial e é um dos focos do Programa na Mão Certa, iniciativa da Childhood Brasil lançada em 2006 que tem como objetivo promover uma ampla união de esforços para acabar com a exploração sexual de crianças e adolescentes (ESCA) nas rodovias brasileiras.
O Programa é fundamentado no Pacto Empresarial contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras, sendo também um convite para as empresas e entidades empresariais assumirem o compromisso voluntário de atuar na prevenção e na mitigação de riscos de envolvimento com a exploração sexual de crianças e adolescentes em suas operações.
Assim, o propósito do programa é conectar pessoas para que entendam a exploração sexual como um problema urgente da sociedade e sejam ativas na proteção de crianças e adolescentes.
CONSCIENTIZAÇÃO E ENVOLVIMENTO DE CAMINHONEIROS
Um dos principais pilares do Programa Na Mão Certa consiste no desenvolvimento de ações de educação continuada de motoristas de caminhão, de modo que eles possam atuar como agentes de proteção dos direitos de crianças e adolescentes. Ao longo dos anos, o programa passou a atuar com diferentes setores da sociedade e da iniciativa privada, dialogando com a indústria, as transportadoras e operadores logísticos, redes de postos de gasolina, empresas de varejo e serviços.
O Programa já alcançou mais de 1 milhão de caminhoneiros com iniciativas de educação continuada e esse ano conta com a participação de 320 empresas comprometidas e ativas. Também investimos em estudos sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas brasileiras, nas cadeias produtivas e em pesquisas sobre o perfil do caminhoneiro brasileiro", explicou a superintendente de programas e relações empresariais da Childhood Brasil, Eva Dengler.
Nesse escopo de iniciativas, merecem destaque o Projeto Mapear, realizado em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na última edição de 2022/2023 foram mapeados 9.745 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais, fato que acende um alerta para um risco ainda bastante presente na realidade das estradas brasileiras.
Em contrapartida, é positivo observar que, segundo o estudo “O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro” de 2021 também organizado pela Childhood Brasil, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe, houve um indicador de redução de envolvimento dos profissionais com a exploração sexual de crianças e adolescentes de mais de 25% em relação à última pesquisa realizada em 2005.
PERFIL DOS MOTORISTAS
No estudo “O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro”, outros insights relevantes foram fornecidos e contribuem para um entendimento mais amplo sobre a realidade dos condutores no país. Dentre eles, é válido citar:
- O faturamento médio dos caminhoneiros vem caindo e hoje é de 2,9 salários mínimos, uma redução significativa em relação a anos anteriores, em que a média foi de 4,55 (2015) e 5,77 em 2010;
- O perfil médio do caminhoneiro brasileiro é formado por homens, com ensino médio completo, média de 45 anos de idade e 18 anos de profissão, recebendo cerca de R$ 3,5 mil por mês;
- Os motoristas relataram uma média de 21,94 dias a cada viagem;
- O uso de smartphones quase triplicou entre os caminhoneiros entre 2005 e 2020;
- Outras questões básicas como banheiros limpos, indicada por 94,4% dos entrevistados, alimentação acessível (88,8%) e de boa qualidade (83,2%) estão entre as principais demandas dos condutores.
CONCLUSÃO
Educação, entendimento do cenário e iniciativas diretas para o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes se colocam, assim, como um tripé estratégico para o fim desta prática que ainda afeta nossas estradas.
Como explica Eva Dengler, “compreender a complexidade da exploração sexual e como ela se relaciona com os diversos setores e atores é fundamental para a estratégia do Programa Na Mão Certa, de modo a tirar o tema da escuridão ao ampliar o debate na sociedade e produzir estatísticas e informações com metodologia fundamentada sobre a temática”.
ESTRADAS DO FUTURO
Enfrentar o desafio dos acidentes em estradas e rodovias do Brasil não é uma questão simples e, ao mesmo tempo, trata-se de uma demanda que pede urgência. De acordo com dados da CNT (Confederação Nacional de Trânsito), só em 2022, mais de 64 mil acidentes foram registrados no país — desses, 82,1% deixou vítimas, incluindo mortos e feridos. Em termos gerais, o Brasil ocupa a preocupante posição de 3º país com o maior número de mortes no trânsito, conforme relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde).
A MundoLogística lançou a campanha “Estradas do Futuro”, uma iniciativa que conta com patrocínio da nstech e da Quartzolit, apoio da Onisys, da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e da Associação Brasileira de Logística (Abralog). Por meio da campanha, o intuito é unir os diferentes atores da cadeia logística nacional, difundindo conteúdos educacionais que tragam tanto visibilidade para a pauta da segurança no transporte rodoviário, quanto práticas e divulgação de soluções que possam colaborar com a capacitação e proteção de motoristas.